BERLIM,
UMA DUALIDADE TEMPORAL
Uma cidade marcada pela história e a guerra, uma vida boémia que faz esquecer um passado negro e uma capital tão aberta a novas experiências que até dizem que pertence a outro país
PUBLICADO A 5 DE MARÇO DE 2020 | VIAGEM DE 11 A 14 DE MAIO DE 2018
Logo que voltei do Brasil, tinha que estabilizar e com isso comecei a ter algum receio de perder aquela “pica” que eu tinha de viajar. Só alguns meses depois, enquanto andava à procura de trabalho, é que me aventurei a pegar na mochila por culpa de uma entrevista de emprego. Eu estava receptivo a ir para qualquer lado e calhou como destino a cidade de Berlim. Era um lugar que não estava de todo nos meus planos e que nunca me puxou muito… mas arrisquei!
A capital da Alemanha é particularmente conhecida pelos trágicos eventos históricos que por ali passaram. Em primeiro lugar com a Segunda Guerra Mundial em que 85% da cidade foi destruída e posteriormente foi a divisão da cidade com o Muro de Berlim durante quase 30 anos.
Hoje é um lugar que reproduz nas ruas muito daquilo que é a sua história e é também uma das cidades mais multiculturais do mundo. Com um sistema económico estabilizado, torna-se uma cidade apetecível e por isso são muitos os estrangeiros que acabam por permanecer. O sistema de transportes é dos melhores do mundo e a aposta cultural tem crescido bastante ao ponto de Berlim ser um dos destinos mais apelativos dos turistas.
Visto que era a minha primeira vez na cidade, reservei quatro dias para a poder visitar. Saí de madrugada do aeroporto de Lisboa, onde apanhei um avião que ainda fez uma pequena escala em Zurique e de manhã cedo já estava no aeroporto de Tegel, em Berlim.
Dia 1, Um percurso alternativo:
Ao longo da minha estadia, fiquei num hostel no bairro de Kreuzberg, um dos mais alternativos onde estão localizados algumas das melhores festas da cidade. Desde que saí do aeroporto apanhei um autocarro, o metro até ao hostel para deixar as minhas coisas, voltei a pegar o metro e outro comboio para chegar até aos arredores de Berlim. O melhor de tudo é que por duas horas consegui usar o mesmo título de transporte em todos eles. A ligação dos transportes é muito boa e está tudo interligado porque existe apenas uma empresa que organiza este sistema entre comboio, metro e autocarro.
Assim sendo, fui para os arredores de Berlim, na zona Poente, porque era ali que ia ter a minha entrevista de emprego. Já que estava longe do centro, aproveitei para descobrir um pouco mais sobre esta zona da cidade.
Teufelsberg
Estava no bairro de Grunewald, perto de uma densa floresta que atravessei a pé até chegar ao ponto mais alto da área metropolitana de Berlim, Teufelsberg (Montanha do Diabo). Este é um lugar com muita história, começando por ser uma escola técnica militar construídas pelos nazis durante a Segunda Guerra Mundial, a Wehrtechnische Fakultät. Anos mais tarde, no decorrer da Guerra Fria, foi o espaço usado pelos Estados Unidos da América para espionagem. Com o tempo o espaço foi-se degradando ainda mais, deixado ao abandono para contentamento dos artistas de rua. Hoje em dia, é um ponto turístico com grandes murais por todo o lado. Teoricamente é possível entrar nos edifícios e subir ao topo do domo para ter vistas de 360º de Berlim mas estavam fechados quando lá fui…
Unite d´Habitation de Berlin
Depois de descer os morros de Teufelsberg, a minha próxima paragem era o Estádio Olímpico de Berlim mas pelo caminho encontrei a Unite d’Habitation de Berlin, uma das principais referências da arquitectura moderna da autoria de Le Corbusier. A primeira e mais famosa destas unidades surgiu em Marselha como parte de um programa de reconstrução do governo francês após a Segunda Guerra Mundial. No total existem cinco unidades, quatro em França e uma em Berlim, que criaram um conceito de unidades de habitação que deu origem a um modelo que veio a ser implantado por arquitectos de todo o mundo.
Estádio Olímpico de Berlin
Finalmente tinha chegado ao Olympiastadion onde ainda aguardei pela visita guiada. Este estádio foi inicialmente concebido para os Jogos Olímpicos de 1916, que acabaram por ser cancelados devido à Primeira Guerra Mundial, sendo que mais tarde foi remodelado para o Campeonato Mundial de Futebol em 2006. É deste grande evento que toda a gente conhece o estádio e na visita, para além de aprendermos mais sobre a sua história, podemos ir até aos lugares dos bastidores onde as equipas se preparam para os jogos.
Como estávamos em Maio, as noites a Norte da Europa são mais pequenas nesta altura do ano e então anoitece muito mais tarde. Por hábito dos alemães, é normal aproveitarem a golden hour junto a um rio a acompanhar o pôr-do-sol. Como a minha aventura tinha começado no dia anterior, dei só mais um passeio pelo bairro de Kreuzberg antes de voltar para o hostel.
Dia 2, O roteiro tradicional:
Neste dia de manhã, já estava com um amigo que mora em Munique e que me acompanhou durante o fim-de-semana. Desta vez ficamos mais pelo centro e começamos com um Free Walking Tour para conhecer melhor o centro da cidade.
Brandenburg Gate
De Kreuzberg apanhamos o metro até à Pariser Platz onde se encontra um dos ícones de Berlim, os Portões de Brandenburgo. Esta é uma antiga porta de entrada na cidade que se apresenta como um arco do triunfo neoclássico com uma estátua no topo que representa a Deusa da Vitória numa carruagem puxada por quatro cavalos em direcção à cidade. O lugar que antigamente era um cenário de passagem da realeza, onde passaram as tropas de Napoleão ou decorreram desfiles nazis, actualmente é uma praça onde estão algumas embaixadas como a de França e Estados Unidos da América. Aqui também encontra-se o principal ponto de partida para os vários grupos que organizam visitas guiadas pela cidade.
Memorial to the Murdered Jews of Europe
Saindo da praça pelo Portão de Brandenburgo e continuando sempre junto a Tiergarten, o principal parque da cidade, rapidamente chegamos ao Memorial do Holocausto que presta homenagem aos judeus assassinados neste período tão negro da história. Trata-se de um espaço público composto por variados blocos de betão com diferentes dimensões que simbolizam um clima de intranquilidade. Dessa forma, é possível andar no meio dos blocos de betão e visitar um museu subterrâneo dedicado às vítimas e às famílias que sofreram perseguições. Infelizmente, muita gente percorre o memorial sem terem muita noção de aquele é um local sagrado… É por isso normal encontrar um polícia sinaleiro a apitar constantemente para avisar as pessoas do que não podem fazer ali.
Bunker de Hitler
Junto ao memorial encontra-se um parque de estacionamento que está por cima do bunker onde Hitler se protegia na época da Segunda Guerra Mundial. É um lugar que está completamente enterrado, sem acesso e que já deu muitas dores de cabeça aos habitantes daquele bairro. Na altura em que decorria o Mundial de Futebol de 2006, eram muitos os turistas que batiam às portas das casas para acederem aos estacionamentos que levassem ao bunker que tanto queriam visitar. Isso nunca foi possível e desde então surgiu a necessidade de instalar placas de sinalização no exterior com essa informação.
Restos do Muro de Berlim
Continuando o percurso pela Wilhelmstrasse, seguimos até ao cruzamento com a Zimmerstraße onde se aguenta um dos troços mais bem conservados do Muro de Berlim. Como este existem tantos outros troços ao longo da cidade e quando isso não é possível encontra-se marcado nas estradas e passeios o limite do antigo muro com cubos de pedra.
Checkpoint Charlie
Mesmo que muitos o pensem, o rapaz que está na fotografia do posto militar não era nenhum Charlie. Esta é a passagem fronteiriça mais usada na Guerra Fria para atravessar de Berlim Ocidental para Berlim Oriental. Cada um deste postos seguia o alfabeto fonético da NATO, daí a chamar-se Charlie (representação da letra “C”). Desde 2001, está instalada uma réplica do posto onde os turistas aproveitam para tirar fotografias com os soldados com os uniformes da época. Ao lado, está o Museu Checkpoint dedicado ao Muro de Berlim que retrata alguns dos acontecimentos ocorridos na Guerra Fria.
Gendarmenmarkt
Estavamos quase a acabar o nosso tour mas antes disso tivemos a oportunidade de passar pela Gendarmenmarkt que é umas praças mais bonitas da cidade. É um espaço muito amplo marcado pelas duas igrejas gémeas de frente uma para a outra: a Norte da praça a Französischer Dom (Igreja Francesa) e a Sul a Deutscher Dom (Igreja Alemã). Entre elas está a Konzerthaus Berlin, a sede da Orquestra de Berlim.
Berliner Dom
A seguir ao almoço e com um céu mais azul sob a cidade, fomos até à Ilha dos Museus visitar a Catedral de Berlim, o edifício religioso mais importante da cidade. Junto ao rio Spree, está localizada frente ao jardim Lustgarten que se tornou um lugar viral para dias tão bons como o que estava.
Em 1944, a igreja foi destruída por uma bomba que caiu sobre a cúpula e só em 2002, depois de longos trabalhos de restauração, é que foi aberta ao público. O interior é muito homogéneo com os tons beges a sobressaírem-se entre as peças em ouro do altar e o grande órgão no lado oposto. Ainda conseguimos assistir a um ensaio coral na Igreja para sentir a acústica do lugar e com isto deu para ter a experiência completa. Além disso, também visitamos uma área expositiva que fala sobre a história da catedral e subir ao topo da cúpula para uma visita panorâmica.
Após subirmos os 270 degraus, temos uma vista panorâmica de 360º a partir de um dos pontos mais altos de Berlim. A subida ainda custa e o percurso é muito estreito mas ao chegar lá acima somos devidamente compensados com uma vista incrível.
East Side Gallery
O nosso dia acabou no East Side Gallery, o maior troço existente do Muro de Berlim que foi usado como mural para os artistas de rua poderem grafitar as suas obras. Com mais de um quilómetro de comprimento, é a maior galeria de arte ao ar livre no mundo com dezenas de desenhos que tornam este um ponto de visita obrigatória na cidade. Uma das principais pinturas que todos querem fotografar (e não foi fácil fazê-lo porque estava sempre gente a aparecer) é a eterna imagem do beijo entre o líder russo Leonid Brezhnev e líder da República Democrática Alemã, Erich Honecker, durante a celebração dos 30 anos da Alemanha Oriental.
Vida Nocturna
Para sair à noite em Berlim, nós já estávamos no lugar certo. Andamos de bar em bar até encontrarmos algo que enchesse as nossas medidas. Não foi fácil porque estava bom tempo e os alemães decidiram encher as ruas, ainda para mais era noite da final do Festival da Eurovisão da Canção e havia ecrãs gigantes nos bares em que as pessoas vibravam como se estivessem a ver um jogo de futebol.
Dia 3, De volta ao centro:
Palácio do Reichstag
Visitamos a famosa cúpula de vidro do parlamento alemão, a Reichstag dome, que só pode ser realizada mediante reserva no site oficial do parlamento. Depois da reconstrução do parlamento que ficou destruído após os ataques na Segunda Guerra Mundial, o lugar destinado à cúpula estava vazio, procedendo-as apenas no fim do século ao projecto de uma cúpula que fosse diferente e que se destacasse, ficando a responsabilidade a cargo do arquitecto inglês Norman Foster. O desenho futurista pretende simbolizar o afastamento de um passado negro e uma mudança em direcção a um futuro mais unido e democrático. Embora não tenho o mesmo impacto que na Catedral de Berlim, há também e oportunidade de sair da cúpula para disfrutar da paisagem envolvente.
Ilha dos Museus
Voltamos a passar pela Ilha dos Museus onde está a Catedral de Berlim. O nome da ilha deve-se mesmo ao facto de ali estarem cinco dos museus mais importantes da cidade como o Bode Museum, Pergamonmuseum, Alte Natinalgalerie, Neues Museum e o Altes Museum. Eu nem gosto de perder muito tempo com museus mas havia tempo para isso e até gostávamos de ver o protótipo do Altar de Pergamo. No entanto, não foi possível fazer algumas destas visitas porque os museus estavam a passar uma fase grande de reabilitação. Talvez para a próxima tenha mais sorte…
Berliner Fernsehturm
Ao continuarmos em direcção ao bairro Mitte, uma das áreas mais nobres da cidade, é inevitável não fugir com o olhar da Torre de TV. Com 368 metros de altura é o edifício mais alto de Berlim e um dos pontos mais altos da Europa. Para além do restaurante no topo da torre, os visitantes podem lá ir apenas para desfrutar de uma das vistas mais completas e interessantes de Berlim.
Alexanderplatz
Tão ou mais importante que a Torre de TV é a Alexanderplatz que é considerada o centro de Berlim desde a Idade Média e onde desencadearam os protestos que deram origem à queda do Muro de Berlim. Actualmente, a praça é uma espaço muito aberto onde estão instalados o Relógio Mundial que mostra a hora das principais cidades do mundo e a Fonte da Amizade entre Povos que é uma herança da República Democrática Alemã.
Além disso, a Alexanderplatz é uma das principais artérias de Berlim ao nível dos transportes e um lugar onde culminam alguns dos estabelecimentos comerciais que contribuem para uma maior desenvolvimento económico da cidade.
Unter den Linden
Regressamos à Catedral para irmos passar o resto da tarde em Tiergarten. Para lá chegarmos percorremos a Unter den Linden, uma das avenidas principais de Berlim que liga a Catedral de Berlim até aos Portões de Brandenburgo. Esta é uma via virada particularmente para o comércio como o local de eleição para os turistas fazerem as suas compras na cidade.
Siegessäule
Assim que chegamos a Tiergarten paramos no Siegessäule, ou simplesmente Coluna da Vitória. O monumento foi construída para comemorar as vitórias militares do antigo Reino da Prússia sobre o Império Austríaco, Dinamarca e França no século XIX. O obelisco tem 67 metros de altura e para além do museu é possível subir ao topo onde está a estátua de Vitória.
Dia 4, Queimar os últimos cartuchos:
O último dia de viagem serviu para preparar a despedida e por isso não me podia dar ao luxo de me meter em grandes aventuras. Basicamente andei sempre junto ao Tiergarten, na zona Sul, onde ainda tinha alguns pontos para ver. Esta área é muito recente e apresenta uma riqueza bem patente nos seus edifícios.
Postdamer Platz
À saída do metro estamos na praça que pelo nome pretende homenagear a cidade de Potsdam, a cerca de 25 quilómetros de Berlim. Aqui na praça, é possível ver um dos troços do Muro de Berlim mas um dos principais motivos que levam as pessoas a lá irem é a proximidade com o Sony Center. Localizado a Oeste da Postdamer Platz, é caracterizado pela grande cúpula de cristal e aço que servem como cobertura dos estabelecimentos comerciais daquele espaço.
Kaiser Wilhelm Gedächtniskirche
(Igreja Memorial Kaiser Whilhelm)
A Igreja Memorial Kaiser Whilhelm foi bombardeada na Segunda Guerra Mundial e foi dos poucos lugares que levou mínimas reparações para o tornar um momento comemorativo e ao mesmo tempo mostrar alguns destroços provenientes da guerra. No interior acolhe uma pequena exposição sobre a igreja com fotografias antes e depois dos bombardeamentos da cidade.
Terminei assim mais uma viagem, aquela que eu esperava ser a primeira de muitas pela Europa. Berlim é um lugar muito rico a todos os níveis e com o tempo são mais as pessoas que se vão lembrando desta cidade pela cultura e pela vida boémia do que pelos tremores provocados pela Segunda Guerra. É uma cidade tão diferente por ser tão mais aberta e relaxada que até se diz que Berlim não é Alemanha, por não se mostrar tão organizada e disciplinada em relação a outros lugares do país.
Olhando para os quatro dias na capital alemã, creio que são suficientes, embora nunca seja demais aproveitar tirar mais tempo para a visitar. Eu tenho noção que podia ter visto mais museus ou Neue Nationalgalerie que também não consegui porque também passava por uma grande renovação. Gostava também de ter ido ao Palácio Charlottenburg, a residência de Verão de Sophie Charlotte, segunda esposa de Friedrich III, ou então de ter ido à cidade de Postdam, um lugar que não foi afectado pela guerra e preserva as melhores tradições da região de Berlim.
Entretanto, não consegui o trabalho que queria. Foi bom porque apesar de ter gostado da cidade não a adorei tanto ao ponto de ali ficar por tempo indeterminado. Por outro lado, é uma cidade que se tiver oportunidade voltarei para novos passeios!
GOSTASTE DESTE ARTIGO? PARTILHA NAS REDES SOCIAIS
PLANEIA A TUA VIAGEM
Aqui encontras as ferramentas necessárias para ti e ainda podes ajudar-me ao usar estes links 🙂
Para encontrares os melhores voos uso sempre o Skyscanner ou o Momondo.
Reserva já a tua estadia no Hostelworld mas se quiseres mais algum conforto podes ver outras opções no Booking.
Contrata o teu seguro de viagem. Ao optares pela IATI Seguros viajas mais descansado e ainda tens 5% de desconto se usares este link.
Queres viajar e não sabes para onde? Com a Chocolate Box podes arriscar ir num destino que só conheces 48 horas antes do dia da viagem e com o meu código NUMPOSTAL10 tens 10% de desconto!
Autor do projecto Num Postal, arquitecto de profissão, fotógrafo nas horas vagas e apaixonado por viagens. Criei o blog para que não me escape nada das minhas aventuras pelo mundo, para partilhar com os outros e para eu reviver cada uma destas experiências! Depois de viver uma temporada no Brasil, percebi que há todo um universo lá fora para descobrir e desde então nunca mais parei de ir à procura de lugares desconhecidos.
FAZ PARTE DESTE PROJECTO
Deixa um comentário e partilha as tuas dicas
POSTS RELACIONADOS
Estes são alguns dos artigos que também poderás gostar de ler