EDIMBURGO, PAREDES QUE CONTAM HISTÓRIAS

A origem da milha escocesa, a inspiração dos livros do Harry Potter e monumentos extravagantes e inacabados

PUBLICADO A 8 DE ABRIL DE 2020 | VIAGEM DE 23 A 24 DE MAIO DE 2019

Foi nesta modesta cidade escocesa que começaram as minhas primeiras férias grandes de 2019. Juntei-me com quatro amigos com o objectivo de irmos ao festival anual de whisky que decorre na ilha de Islay na última semana de Maio. Sabendo que não queríamos passar os dias todos a beber, achamos por bem conhecermos um país que até então tinha pouco significado para nós… Assim, Edimburgo foi o ponto de partida para outros destinos como Stirling, Perth, as Higlands, Oban, a ilha de Islay como referi e ainda Glasgow.

Edimburgo apesar de ser a capital da Escócia, fica atrás de Glasgow nas maiores cidades do país mas isso não lhe tira qualquer brilho. É um lugar que se caracteriza que pelo seu centro histórico muito bem conservado onde se destaca na paisagem o castelo assente numa grande rocha de origem vulcânica (e daí o nome de Castle Rock).

O dia começou cedo em Lisboa onde apanhamos um avião directo para Edimburgo que demoraria 3 horas. Ao chegar ao centro da cidade, logo depois de almoço, instalamo-nos no nosso apartamento e rapidamente apercebemo-nos que não podíamos ter escolhido melhor sítio para ficar. Para além de estarmos num dos pontos mais centrais, havia uma grande proximidade com restaurantes, mercearias, pubs e algumas das atracções turísticas mais conhecidas da cidade.

Dia 1, Entre colinas:

Fomos a Edimburgo no mês de Maio e apesar de estarmos perto do Verão é impensável sair de casa sem levar um casaco vestido. Esta é uma regra básica para sobreviver na Escócia! Agora que tomamos todas as medidas necessárias, estávamos preparados para sair à rua.

Old Calton Burial Ground

Em primeiro lugar fomos a Old Calton Burial Ground, um cemitério onde jaz algumas personalidades como o filósofo David Hume ou o cientista John Playfair. O cemitério é também marcado pela instalação do Monumento aos Mártires Políticos que não é mais que um obelisco com quase 30 metros de altura com o intuito de homenagear cinco reformistas políticos do final do século XVIII e início do século XIX.

À primeira vista poderia ser apenas um cemitério como tantos outros, não fosse alguns destes espaços serem considerados autênticos parques temáticos onde muita gente passa o tempo a descontrair ou a ler um livro. É algo que se verifica em muitos lugares do país onde passei. Para os visitantes é sempre um motivo de descoberta pela forma como estes espaços estão apresentados com os seus jardins arranjados e com as lápides que só vemos nos filmes.

Edimburgo, paredes que contam histórias_Num Postal
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Calton Hill

Continuando a subida pela colina, estávamos em Calton Hill. Começamos a andar ao redor da colina onde se começa a ter uma primeira panorâmica para a cidade que é dominada pelo Arthur’s Seat (o Assento de Artur). É um colina que forma uma grande parte do Parque Holyrood onde é possível subir para ter uma outra perspectiva de Edimburgo.

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Assim que chegamos ao topo de Calton Hill, existem uma série de monumentos que dão vida a este local. Temos o Observatório da Cidade ou o Nelson Monument mas a que se destaca das demais é o Monumento Nacional da Escócia aos soldados escoceses que deram a vida nas guerras contra Napoleão. Esta é uma construção inacabada como tantas outras que se encontram neste país pelo mesmo motivo… Acontece que os escoceses são um povo tão extravagante que nunca souberam muito bem o que fazer com o seu dinheiro e no fim quando não há fundos monetários, as obras acabam por ficar incompletas.

No topo da colina é ainda possível observar a parte nova da cidade, que é mais organizada, moderna e tem uma maior relação com o oceano.

Edimburgo, paredes que contam histórias_Num Postal
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Calton Hill é um lugar incrível que tem vistas ainda mais espantosas para a cidade e por isso é um espaço de eleição para ver o pôr-do-sol. Não foi o que aconteceu… No fim de Maio anoitece em Edimburgo quase às 22h e ainda tinhamos algumas coisas para ver na cidade.

Scott Monument

Descemos até ao vale que divide a cidade velha da área mais recente e deparamo-nos com o Scott Monument. Eu já disse que os escoceses gostam de construir tudo o que querem e este é mais um exemplo disso. Completamente descontextualizado da sua envolvente, este monumento é um marco em memória ao escritor Sir Walter Scott que foi um dos notáveis da literatura escocesa. De origem gótica e com todos os seus ornamentos, este espaço tem contém num interior um museu sobre o escritor.

Ainda neste vale conseguimos andar pelo Princes Street Gardens enquanto nos deslumbrávamos com a parte antiga da cidade. Aqui também se encontra a estação de comboios de Edimburgo que é dos pontos principais de chegada à cidade.

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Royal Mile

De volta à cidade velha, aproveitamos para apanhar o fim do dia na Royal Mile, esta que é a avenida principal da cidade onde a partir da qual se concentram todas as atenções de Edimburgo. Esta rua tem este nome porque é responsável pela ligação entre o Castelo e o Palácio da cidade, dando também origem à milha escocesa que tem mais 205 metros que a milha britânica. Com o entardecer a cidade fica com cores incríveis mas também tivemos sorte com o aparição do sol, algo que raramente acontece nesta região.

Edimburgo, paredes que contam histórias_Num Postal
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Tron Kirk & Royal Mile Market

Na Royal Mile, perto do apartamento onde estávamos alojados, entramos na Tron Kirk & Royal Mile Market. Aparentemente, diria que íamos entrar numa Igreja mas quando entramos era um mercado com artigos alusivos ao país e com alguns painéis expositivos da cidade. É uma prática muito comum este tipo de renovações em edifícios deste cariz.

Edimburgo, paredes que contam histórias_Num Postal
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Ainda não era de noite mas a hora de jantar chamava por nós. Isto porque é normal a partir as 20h muitos dos restaurantes não aceitarem mais pessoas para jantar e então tínhamos de nos adaptar. No entanto, nem sempre foi fácil aceitarmos este registo e por um lado também foi bom porque conseguíamos arranjar sempre um lugar onde comer, nem que fosse um bar e depois ficávamos lá para a noite.

E por falar em bares, é aí que as pessoas se juntam normalmente ou então vão para as suas casas. As ruas ficam muito tranquilas e é muito pouco o movimento que encontramos quando se sai à noite.

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Dia 2, O encontro com uma nova civilização:

O dia começava mais uma vez da melhor forma, com um sol incrível que nos surpreendia cada vez mais. Não é normal termos um tempo assim tão bom na Escócia mas nós tivemos a sorte de termos uma recepção bastante agradável.

The Inn On the Mile

Além do tempo, nada melhor que começar o dia com um pequeno-almoço tipicamente escocês (o full scotish breakfast). O local escolhido foi o The Inn On the Mile, do outro lado da rua onde estávamos alojados e tomamos das melhores refeições que tivemos neste país. O pequeno-almoço é bastante idêntico ao inglês sendo que na Escócia é reforçado por morcela (black pudding) e haggis que tem um aspecto de carne moída feito com miúdos de carneiro condimentados e farinha de aveia. À primeira vista pode não parecer a coisa mais deliciosa do mundo mas é até começar a comer para não querer outra coisa. Para mim o pequeno-almoço é das melhores refeições do dia e na Escócia eram qualquer coisa de extraordinário. Muitas vezes nem almoçávamos porque estas refeições enchem o estomâgo de qualquer pessoa para ficarmos saciados ao longo da manhã (às vezes até ao fim do dia).

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Mercat Cross

Da parte da manhã íamos realizar o Free Walking Tour pela cidade e o ponto de encontro era mais uma vez a Royal Mile. Daqui seguimos até ao Mercat Cross, a Cruz Mercantil que igualmente se encontra noutras cidades escocesas para mostrar que ali era um lugar para a realização de mercados ou feiras. A estrutura é apresentada como um prisma octogonal e um pilar cilíndrico com um unicórnio no topo. Para fazer face à rivalidade com os ingleses, o unicórnio que curiosamente é o símbolo da Escócia, era um dos únicos animais que conseguia derrotar o leão na mitologia (este que é o símbolo dos irmãos britânicos).

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Catedral de Santo Egídio

Este símbolo escocês está nas traseiras da Catedral de Santo Egídio. Esta igreja é um lugar de culto cristão sendo considerada a Igreja Matriz do Presbiterianismo e a sede episcopal de Edimburgo. Neste espaço destacam-se os imensos vitrais que revestem as suas paredes, a imensidão de bandeiras expostas e a estátua de John Knox, líder da reforma religiosa na Escócia que se encontra enterrado naquele lugar.

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Writer’s Museum

Edimburgo como já disse é uma cidade de becos e ruelas assim como um lugar cheio de vida no interior dos seus quarteirões. E era até um destes espaços que seguíamos desta vez, mais precisamente ao Writers’ Museum situado em Lady Stair’s Close. Um espaço para descobrir mais sobre a vida de vários autores escoceses como Robert Burns, Robert Louis Stevenson e o já enunciado Walter Scott.

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Victoria Street

Algo que está muito presente na vida da cidade é a inspiração que foi dada aos livros de Harry Potter. J.K. Rowling, a autora deste fenómeno mundial, instalou-se em Edimburgo para buscar inspiração na sua obra e por isso existem vários tours na cidade alusivos a esta personagem que despertou no início do séc. XXI.

Desse modo, a próxima passagem foi na Victoria Street, uma rua como outra qualquer com lojas de souvenirs e bastante colorida que serviu de referência para a Diagon-al, a rua onde os mágicos antes de começarem as aulas iam comprar os seus materiais para o novo ano escolar.

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Greyfiars Kyrkiard

As histórias do rapaz que sobreviveu a Voldemort levava-nos a um novo espaço, o Greyfriars Kyrkiard. É mais um cemitério onde as pessoas vão para passar o tempo (neste dia via-se muita gente a apanhar sol) e ficou também marcado por um lugar onde J.K. Rowling se inspirou nos nomes das suas personagens. É difícil encontra-los mas eles estão lá, nem sempre iguais mas muito idênticos aos originais.

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Greyfiars Bobby

O nosso tour acabou neste cemitério e ali ao lado está uma estátua muito conhecida do Greyfiars Bobby, um pequeno cachorro Skye Terrier que ficou muito conhecido por naquele lugar ficar a guardar o túmulo do seu dono até à morte do mesmo. Dizem que quem esfregar a mão no focinho da estátua terá sorte para a vida toda e é bem visível que muita gente acredita nisso pelo estado em que se encontra.

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Grassmarket

Ao voltar para a Royal Mile, passamos pelo Grassmarket, um lugar bem simpático que não podia faltar neste roteiro. Situado na parte baixa da cidade velha, é um espaço destinado para comércio que antigamente foi um local de execuções públicas. Este é um lugar de muitas histórias e uma das mais caricatas está relacionada com o pub de Maggie Dickson naquela praça… Esta personagem foi um pescadora condenada à morte por enforcamente em Grassmarket por ter assassinado o seu bebé após o seu nascimento em 1724. Com o corpo a caminho de Musselburgh, ela despertou e de acordo com a lei escocesa, como já tinha sido executada, não poderia voltar a ser punida pelo mesmo crime. Assim sendo, conseguiu sair em liberdade e actualmente tem um bar em sua homenagem.

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Castle Rock

Já não faltava muito para começarmos a nossa aventura em Castel Rock, o ponto mais alto e imponente de Edimburgo. À entrada do castelo conseguimos ter panorâmicas incríveis da cidade e assistir à troca de guarda. Um momento que para qualquer rotina e impede a entrada no recinto.

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Ao entrar no castelo, íamos apercebendo que não íamos ter muito tempo já que tivemos pouco mais de duas horas e faltou muito para ver… No entanto, este é um lugar que fala sobre a história do país através de espaços expositivos com esculturas dos seus antepassados ou somente pela exibição das grandes salas de jantar ou mesmo das prisões. Vale mesmo a pena perdermo-nos lá dentro!

De qualquer forma, a melhor parte foi experienciar as panorâmicas que conseguíamos obter da cidade. O tempo ajudou (muito!) e por isso dava para entender com clareza onde estávamos e o que tínhamos à nossa volta.

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The Hub

Voltando de novo para a Royal Mile, cruzamo-nos com mais uma igreja que não o era… The Hub é um monumento neogótico que foi idealizado como lugar de culto mas hoje em dia é um edifício público de artes e eventos, usado como bilheteira e centro de informações.

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“À noite”, participamos numa Dark Tour com o objectivo de explorar os lados mais sombrios de Edimburgo. Não foi tão entusiasmante como esperávamos (ainda estar de dia também não ajudou) mas foi bom explorarmos uma parte mais restrita do Greyfriars Kyrkiard.

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A noite era mais uma vez tranquila. Mesmo a um sábado cidade torna-se um lugar muito pacífico dando a ideia que nada acontecesse por ali… Basta entrar num bar para entender o que as pessoas andam a fazer. Geralmente estes espaços estão cheios com muita festa a animação à mistura.

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E assim terminamos a nossa primeira paragem por terras escocesas! Chegamos a Edimburgo sem qualquer tipo de expectativas, sem saber o que nos esperava e esta cidade tornou-se uma agradável surpresa.

Apesar de termos estado apenas dois dias na cidade, acredito que num dia inteiro se consiga visitar tantos lugares como fizemos. È claro que se pode fazer mais algumas actividades como assistir ao pôr-do-sol em Arthur’S Seat, visitar alguns dos palácios à volta do centro histórico ou passar uma manhã no Museu Real da Escócia.

Quero acreditar que o sol destes dias deu-nos uma perspectiva diferente e muito boa da cidade. É normal que a Escócia em geral seja um lugar muito frio e chuvoso, no Inverno existem poucas horas de luz e por isso só temos de agradecer a todos os santinhos por nos terem proporcionado a melhor das experiências num lugar com tantas histórias para contar.

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Autor do projecto Num Postal, arquitecto de profissão, fotógrafo nas horas vagas e apaixonado por viagens. Criei o blog para que não me escape nada das minhas aventuras pelo mundo, para partilhar com os outros e para eu reviver cada uma destas experiências! Depois de viver uma temporada no Brasil, percebi que há todo um universo lá fora para descobrir e desde então nunca mais parei de ir à procura de lugares desconhecidos.

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