GDANSK,
O TRIDENTE DO NORTE
Sinos que tocam dois minutos antes da hora, uma estância balnear com festas para todo o ano e uma cidade medieval diferente de todas as outras do país
PUBLICADO A 22 DE MAIO DE 2020 | VIAGEM DE 11 A 13 DE SETEMBRO DE 2019
Um dos lugares que vai para o top 3 dos destinos que mais gostei de visitar nos Bálticos. É nesta cidade do Norte da Polónia que se encontra uma das áreas mais entusiasmantes do país! Além de Gdansk, um lugar com um património histórico muito rico, estamos muito perto de outras duas cidades, Gdynia e Sopot. Estes três pontos compõem o Tróimiasto, um tridente de cidades que se juntaram com a componente de se apoiarem mutuamente.
Gdansk é o núcleo urbano principal deste tridente que possui o terceiro maior porto da Europa. Sopot é o lugar onde estão a maior parte dos estudantes universitários, as festas e as praias. Gdynia destaca-se pelas infraestruturas do seu porto e pelo seu passeio marítimo, ficando muitas vezes de fora dos roteiros de quem visita aquela região.
Diz-se que a maior parte das cidades na Polónia são todas iguais mas o facto de Gdansk estar junto ao mar e de possuir um carácter medieval único, é logo um factor que a torna incomparável com qualquer outro lugar do país. Junto ao rio Motława dá quase a ideia de que estamos numa mini-Copenhaga… De resto, é um lugar que equilibra muito bem o turismo com a qualidade de vida dos locais, é uma cidade muito jovem e possui muitos jardins espalhados pelo seu centro histórico.
Muito por culpa dos meus planos que saíram furados, cheguei mais cedo a Gdansk onde iria passar as próximas duas noites. A forma mais económica de chegar à cidade desde Varsóvia, onde estava anteriormente, é de autocarro mas eu preferi o conforto do comboio e o facto de “só” demorar 4 horas de viagem também pesou na decisão. Logo depois de me instalar fui à descoberta da cidade sem grandes planos à espera que me pudesse surpreender.
Dia 1, Um programa sem rumo:
Ao sair da estação de comboios, comecei a reparar nas diferenças para a capital. Em Gdansk, tudo é muito mais pequeno, tanta a cidade em si como os edifícios, as ruas, os largos, os jardins, é tudo muito diferente… Além disso, luz também não parecia a mesma. É isso ou tive mesmo muita sorte com o tempo…
Ulica Długa
(Rua Długa)
Mesmo sem um objectivo muito especifico para o dia, é inevitável andarmos pela cidade e não passarmos pela avenida principal da cidade. Aqui estão alguns dos edifícios mais emblemáticos da cidade, a maior parte dos restaurantes (muitos deles acessíveis para todas as carteiras) e o que não falta é animação de rua. O melhor desta é mesmo o facto de ser pedonal e com uma arquitectura incrível que preserva o que mais há de tradicional.
Długi Targ
(Mercado Długa)
Entre o fim da avenida e o Portão Verde (que de verde não tem nada) está um espaço um pouco mais amplo que é praça do mercado, ainda com mais restaurantes, mais animação de rua (há uma paixão pelos violinos a tocar em espaços públicos), a fonte do Neptuno e o termómetro do Fahrenheit em homenagem ao físico que inventou esta escala de temperatura e era natural de Gdansk.
Rio Motława
Outra das grande referências de Gdansk é o rio que atravessa a cidade antiga. Existe uma grande diversidade nos edifícios que envolvem o rio, quer seja pelas cores, materiais ou pela época em que foram construídos. A paisagem é igualmente marcada pela construção de um antigo guindaste, um dos maiores da Europa, que fazia o carregamento para alguns dos navios comerciais. Um passeio naquela zona é quase obrigatório, sendo que a melhor altura acaba por ser o fim do dia e ainda são muitas as ofertas que nos permitem ter uma outra perspectiva de Gdansk através dos vários passeios de barco que saem pelo rio afora.
Museu da Segunda Guerra Mundial
São dos lugares que estão mais que vistos em qualquer cidade do mundo mas mesmo assim decidi dar o benefício da dúvida tendo em conta que já é uma das principais referências da cidade e porque fazia sentido ver a perspectiva de um país que foi dos que sofreu mais com este período da história. Com apenas dois anos de existência (a esta altura), posso dizer que tem as exposições mais interessantes que já vi da Segunda Guerra Mundial! Além disso, o espaço é enorme! Eu visitei o museu durante duas horas e não consegui ver tudo. É mesmo aconselhável passar pelo menos umas quatro horas no local.
Monumento aos trabalhadores caídos do estaleiro de 1970
Ainda que o dia estivesse quase a acabar, encontrei este monumento num dos pontos mais a Norte da cidade antiga. Em 1970 o governo aumentou os preços de produtos básicos do dia-a-dia que geraram uma revolta no país e resultaram em tumultos nas cidades costeiras. As três cruzes homenageiam os 42 mortos durante estes eventos e é o primeiro monumento às vítimas da opressão comunista a ser erguido num país que segue estes ideais.
Góra Gradowa
(Montanha Gradowa)
Entretanto, não há melhor forma que subir esta colina para obter uma perspectiva diferente da cidade. No seu ponto mais alto a 46 metros acima do nível do mar, é possível ter uma panorâmica incrível da cidade. Destaca-se pela Cruz do Milénio, instalada depois da viragem do século, num local que era uma antiga fortificação para proteger a cidade do Oeste.
À noite fui dar mais uma volta pela Rua Długa onde aproveitei para jantar. As opções são muito baratas (como em quase todos os lugares do país) e embora não pareça pelas fotos, é um lugar muito calmo nesta altura do dia. Também é muito comum encontrar jovens que nos seus primeiros empregos tentam persuadir os turistas a visitar alguns dos bares de strip da cidade…
Dia 2, O primeiro mergulho no Báltico:
Embora Gdansk seja uma cidade possível de se ver num dia, aproveitei o tempo que tinha para a visitar com calma e assim sendo gastei uma parte da manhã para ver o que me faltava através de um dos poucos tours que encontrei.
Museu do Âmbar, Torre da Prisão e Câmara da Tortura
Em primeiro lugar temos um espaço dedicado ao âmbar que existe em abundância em toda a região do Báltico e todos os produtos e mais alguns são feitos com este material que encontramos ao longo da cidade, desde uma peça de decoração a uma jóia. Antes disso, este era um edifício que era parte das fortificações da cidade que se tornou uma câmara de tortura e um tribunal onde muitas execuções decorreram até ao século XIX.
Portão Dourado
Este é uma das entradas principais para a Rua Długa. Um pórtico que se destaca pelas estátuas que representam a paz, liberdade, prosperidade, glória, prudência, piedade, justiça e harmonia. Marca também o início da Rota Real porque era ali que a realeza passava pela rua.
O Grande Arsenal
Em seguida, fizemos um pequeno desvio na Rua Długa, onde temos a oportunidade de conhecer uma das fachadas mais bonitas e melhor cuidadas da cidade. É no edifício do Grande Arsenal de armas e munições que encontramos uma incrível construção barroca em tijolo marcada pelos seus entalhes em dourado.
Igreja de Santa Maria
Ao descer a rua, é facilmente visível esta igreja católica, uma das maiores do país com uma torre a passar os 100 metros de altura. Faz lembrar as igrejas luteranas por ser quase toda despida de ornamentos no interior e com paredes brancas. É um espaço tão grande que é quase impossível ter uma percepção completa do edifício e por isso existe à entrada uma pequena maquete do edifício para as pessoas perceberem exactamente como é a sua forma.
Ratusz Głównego Miasta Gdańska
(Câmara Municipal de Gdansk)
Logo após de voltar à Rua Długa, parei um pouco para apreciar o edificio da Câmara Municipal. Um edifício em tijolo com telhados verdes que mais parece uma igreja por causa da sua torre do relógio que lhe permite sobressair de tudo o que se passa à sua volta. Também possui um carrilhão que toca de hora a hora com a particularidade de tocarem sempre dois minutos antes da hora, assim como todos os sinos da cidade.
Portão Verde
Uma das principais razões da Rua Długa se chamar Estrada Real deve-se ao facto de no outro topo da rua se situar o Portão Verde que era uma das residências dos reis da Polónia. O Portão Dourado era uma das principais entrada na cidade antiga de tal forma que a partir daí era o caminho que faziam até à sua mansão. Actualmente, é um dos lugares mais apetecíveis de Gdansk onde encontrarmos constantemente grupos de música clássica a darem outro ânimo naquela parte da cidade.
Ulica Mariacka
(Rua de Santa Maria)
Gdansk é uma cidade que como tantas outras foi destruída por causa da Segunda Guerra Mundial. Contudo, muitas ruas foram reconstruídas fielmente como eram antigamente e aqui em particular podemos encontrar um dos melhores protótipos de como era a vida antigamente. Quase todas estas rua vão dar a um portão que fazia parte de uma antiga muralha em tijolo que faz a passagem para o rio.
Museu dos Correios da Polónia
Esta foi a minha última paragem da parte da manhã antes de ir para Sopot. O museu é um dos mais importantes da cidade pelo papel importante que obteve com o decorrer da história. No entanto, o que mais me impressionou foi a escultura de frente para o museu, uma homenagem aos empregados dos correios que enfrentaram as primeiras tropas em defesa do seu trabalho no início da Segunda Guerra Mundial. Por outro lado, nas traseiras do edifício, existe ainda uma pequena instalação com as marcas dos que foram executados naquela praça durante este período.
Sopot
A distância de Gdansk para Sopot é muito curta. Bastam 10 minutos de comboio e rapidamente chegamos à cidade das praias e das melhores festas do Tróimiasto. O tempo nem era o mais favorável… Apesar de estar frio e pouco sol, o que eu queria mesmo era ter a experiência de mergulhar no Mar Báltico.
Mas antes disso, fiz um pequeno desvio e fui até ao interior desta pequena cidade para visitar a Ópera da Floresta. É uma sala de espectáculos ao ar livre, no meio da natureza, apenas com a protecção de uma tela na cobertura.
Entretanto voltei até à estação para fazer a transição para o centro da cidade. A escala tornava-se logo mais pequena, via-se uma cidade mais acolhedora e o ambiente também era mais tranquilo.
O principal ponto de passagem em Sopot é a Rua Monte Cassino. À entrada da rua temos à espera a Igreja de São Jorge que tem na sua torre um ponto de referência para os pescadores da baía de Gdansk se orientarem. Logo depois de passar a igreja, estamos finalmente na Monte Cassino, uma rua pedonal com vários estabelecimentos comerciais que são os principais agitadores desta área urbana e onde estão os principais espaços para as festas nocturnas. A rua termina numa praça que nos transporta directamente para as praias desta estância balnear.
No momento em que cheguei à praia, temos também acesso ao maior pontão de madeira da Europa com 515 metros de comprimento. É um lugar perfeito para ter outra perspectiva de Sopot e das praias mas com a afluência cada vez maior de turistas é necessário comprar um bilhete de entrada de 2€. Eu preferi não compactuar com isso…
Um mergulho no Báltico
Por fim, para acabar o meu dia em grande, entrei pelo areal adentro em direcção ao mar e ali fiquei o resto da tarde para ver o sol cair por trás da cidade. Assim como no Golfo de Riga, a profundidade da água não é muito grande junto à costa e os níveis de salinidade são muito baixos. Inicialmente achei a praia muito estranha com a quantidade enorme de alforrecas que encontrava à beira-mar e dentro de água mas eram tão pequenas que não faziam mal nenhum… Também é normal ver os cisnes andar naquelas zonas enquanto tomamos banho no mar. Dessa forma, estavam encontrados todos os elementos para acabar o meu dia em beleza antes de voltar para Gdansk.
Dia 3, Um dia muito relaxante:
O último dia na cidade foi o mais tranquilo de toda a viagem. Aproveitei para me despedir de Gdansk com uma última volta pelo centro e para conhecer melhor a zona onde estava instalado. Deu ainda para voltar até ao rio onde se encontra algumas das melhores amostras de Gold Wasser, uma vodka original daquela região que se tornou a lembrança perfeita para trazer para Portugal.
Antiga Câmara Municipal
Nas traseiras do meu hostel ia dar a um parque onde está a antiga Câmara Municipal de Gdansk, um edifício do século XVI feito em tijolo que sobreviveu à Segunda Guerra Mundial e por isso mantem a sua forma original desde sempre.
Em frente ao edifício existe um jardim com uma estátua do astrónomo polaco Johannes Hevelius, natural de Gdansk e fundador da topografia lunar que podemos ver representada numa das paredes cegas dos edifícios que limitam o parque. Este espaço é limitado do lado oposto pelo canal Radunia tem uma pequena ilha no meio com uma casa que para mim é uma pequena ilustração representativa da cidade.
Igreja de Santa Catarina
Junto ao parque destaca-se a grande torre da Igreja de Santa Catarina, a mais antiga de Gdansk. Começou por ser um espaço protestante até final da Segunda Guerra Mundial e depois converteu-se ao catolicismo. Mesmo que tenha sido renovado com o passar do tempo, o seu interior ainda guarda algumas das marcas provocadas pela guerra.
Gdańsk Główny
(Estação de Comboios de Gdansk)
Durante o dia fui dar a última volta pelo centro histórico e depois ainda passei uma parte da tarde no hostel. Só mais a meio da tarde é que voltei à estação de comboios para apanhar o transporte até Poznan, uma cidade para a qual demorei 4 horas de comboio que acaba por ser uma opção quase tão viável como o autocarro.
Gdansk passava de um lugar que inicialmente tinha ouvido falar há uns anos onde o meu irmão tinha estudado para a cidade onde mais gostei de estar neste país. Foi um lugar que me surpreendeu muito pela positiva! Em qualquer canto estava sempre algo de novo a acontecer e, para além disso, o ambiente de uma cidade pequena é sempre muito mais acolhedor e relaxante quando comparado com uma capital.
Esta é uma cidade tão pequena que se pode ver em um dia (ou uma manhã e passar uma tarde nos museus), deixando um dia exclusivo para aproveitar a praia de Sopot e quem sabe ir ainda a Gydnia. Em Gdansk nem vale a pena conhecer o sistema de transportes a não ser que seja para ir a outra cidade.
O melhor de estar sozinho nestes lugares é que nos damos muito mais aos outros e aqui também conheci muitas pessoas no hostel onde estava (tanto polacos como outros estrangeiros, nomeadamente alemães), o que ajudou a tornar toda esta experiência na cidade ainda mais enriquecedora.
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Autor do projecto Num Postal, arquitecto de profissão, fotógrafo nas horas vagas e apaixonado por viagens. Criei o blog para que não me escape nada das minhas aventuras pelo mundo, para partilhar com os outros e para eu reviver cada uma destas experiências! Depois de viver uma temporada no Brasil, percebi que há todo um universo lá fora para descobrir e desde então nunca mais parei de ir à procura de lugares desconhecidos.
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