ISLAY,
A ILHA QUE CHEIRA A WHISKY
O festival Feis Ile, os açores escoceses e as destilarias que são a chama viva da região
PUBLICADO A 22 DE ABRIL DE 2020 | VIAGEM DE 28 A 30 DE MAIO DE 2019
Estavamos finalmente a chegar ao objectivo desta viagem: o Festival anual de Whisky de Islay (lê-se Eye-le). Nesta ilha encontramos algumas das melhores destilarias de whisky do país e é um dos lugares perfeitos para a sua produção devido à sua terra fértil e a abundância de turfa que ajuda a tornar esta bebida mais fumada, conferindo-lhe assim um sabor mais característico e considerado por muitos como um dos melhores que o whisky pode ter.
O Feis Ile, o nome em gaélico dado ao festival, acontece todos os anos no final de Maio e tem uma série de eventos na destilarias e outros locais da ilha para celebrar a sua cultura através da música, danças e degustações de whisky. Em cada um dos dias, uma das destilarias está aberta ao público para visita do seu espaço com ofertas de brindes.
As destilarias de whisky são mesmo os pontos centrais de cada uma das povoações da Islay São os principais dinamizadores de trabalho da ilha e tornaram-se grandes empresas que estão ligadas às famílias locais à varias gerações. A ilha tem pouco mais de 3 000 habitantes mas nesta altura do ano os números disparam com a quantidade de turistas que vêm para o festival de whisky. Por se tratar de uma ilha, os seus recursos são limitados e por isso a agricultura e a aposta no turismo tem vindo a ser umas das principais actividades comerciais para além da destilação de whisky.
Como chegar?
No dia de chegada tivemos de sair de madrugada de Oban para apanhar um barco de Kennacraig até Islay. Os barcos tem horários muito restritos e demoram cerca de duas horas até à ilha com saída em Port Askaig ou Port Ellen que têm os dois cais principais. Nós levamos o nosso carro porque é a melhor forma de nos deslocarmos na Islay; embora a ilha esteja preparada para se fazerem grandes caminhadas, muitos dos turistas não vão preparados e acabam por se sujeitar ao escasso número de transportes públicos ou a ter de fazer as suas deslocações a pé.
Dia 1, A sul da ilha:
Tenho de falar um pouco sobre o barco que nos levou para a ilha. Fomos num catamarã bastante confortável com vários serviços de refeição onde aproveitamos para tomar um pequeno-almoço bem reforçado. Mais uma refeição matinal que não desiludia.
Kintra Farm
Ao chegar à ilha, desembarcamos naquela que dizem que é a capital de Islay: Port Ellen. Mesmo que esta seja uma das povoações mais pequenas, acaba por ter um porto que lhe dá esse estatuto (e isso é um factor muito relevante).
Pegamos no carro e seguimos directos até Kintra Farm, uma quinta que aluga parte dos seus terrenos para campismo e assim ficamos durante duas noites. Mesmo com condições muito básicas, o lugar era espectacular e de um lado tinhamos um prado verde com vacas a pastar e do outro uma praia gigante só para nós. Independentemente disso, o tempo era bastante enganador e o sol só disfarçava o frio que circulava no ar (ainda por cima os balneários eram na casa principal que ainda ficavam a uns 200 metros de onde acampamos).
Logo depois de montar campo, voltamos para trás em direcção a outras paragens para visitar as destilarias a sul da ilha. Cada pedaço da Islay era digno de ser registado e, para além das paisagens incríveis, as vilas pareciam que tinham parado no tempo e este era mais um motivo que tornava este lugar único.
Laphroaig
Estavamos a chegar a Laphroaig e curiosamente este era o dia da destilaria no festival. Assim que entramos na destilaria, recebemos um saco com um mapa, um copo para degustação e uma amostra de whisky. Havia um concerto, várias food trucks e o lugar estava lotado de turistas de todo o lado. Aproveitamos também para ver alguns espaços expositivos enquanto íamos desfrutando desta festa.
Ao longo da ilha, todas as destilarias possuem uma linguagem muito própria. São caracterizados como edifícios brancos com uma cobertura em telha preta de duas águas e estão, geralmente, junto ao mar. Do mesmo modo, existem também grandes descrições nos seus edifícios para identificar as marcas das destilarias, sempre com o mesmo tipo de letra em cor preta sobre o fundo branco.
Do lado oposto da destilaria, existe um campo com algumas bandeirinhas de vários países que é o lugar onde cada comprador de uma garrafa de 10 anos pode adquirir um troço de uma propriedade à qual se chama de “pé quadrado”. É mais uma estratégia de marketing para os amantes de whisky (e que pelos visto funciona).
Ardbeg
Seguia-se a destilaria de Ardbeg, um dos whiskys mais conceituados e com inúmeros prémios nos últimos anos.. Aqui fizemos um tour pela fábrica que custou 5€ mas que compensou muito. Vimos os bastidores da produção, tivemos uma prova de whisky e ainda ficamos com os copos como lembrança da destilarias. Eu não sou grande fã de whisky e claramente fui empurrado para esta viagem mas aqui, finalmente, consegui beber a minha primeira amostra.
No fim da visita, visitamos o espaço exterior. Junto ao mar é bem perceptível que como plano de fundo conseguimos observar uma parte da Irlanda do Norte.
Lagavulin
As duas destilarias principais para este dia já tinham sido vistas. Ao voltarmos para trás ainda passamos por Lagavulin e apesar do sol ainda estar bem radiante, os horários das visitas já tinham acabado e por isso fizemos apenas um passeio pela zona para descontrair um bocado e esticar a pernas.
Port Ellen
Voltamos a Port Ellen para jantar. Se até agora tinhamos tido dificuldade em encontrar lugares para comer, na ilha era ainda mais difícil porque com a visita de turistas ao festival, estava tudo reservado e só ao quinto restaurante é que encontramos um lugar para jantar. Mas nem tudo foi mau. A espera deu para ir passeando um pouco pela vila e no fim do jantar fomos mesmo presenciados com uma luz incrível de final de tarde a iluminar Port Ellen.
Este tinha sido um dia bastante produtivo e cansativo. Andamos a manhã toda em viagem e para alguns de nós estas deslocações foram bem duras.
Voltamos a campo para descansar e apanhamos um incrível pôr-do-sol quando eram apenas 22 horas. Já de noite, aproveitei para aperfeiçoar as minhas capacidades em astrofografia mais foi quase impossível… Primeiro porque anoitece muito tarde e por isso ainda conseguia ver bastante luminosidade nas fotografias nocturnas. Em segundo lugar porque em pleno fim de Maio as temperaturas estavam a marcar os 5º.
Dia 2, A rota do norte:
Esperava-nos mais um dia com muitas visitas e ao sair do campo regressamos a Port Ellen para o local onde jantamos no dia anterior. Fomos tão bem tratados que decidimos que seria ali onde sempre que pudéssemos íamos tomar as nossas refeições.
Neste dia iamos visitar a parte mais a norte da ilha. Enquanto seguíamos na estrada só víamos verde! Parecia que estávamos nos Açores, com os prados verdejantes, as ovelhas e as vacas a pastar ao longo da estrada e até vimos um pequeno aeródromo que recebe pelo menos um voo desde Glasgow. A diferença para os Açores é que ali é quase tudo plano.
Na Escócia também não há muitas restrições em relação a espaços de campismo e por isso era normal vermos terrenos amplos com um caixote de lixo no meio já preparado para receber os visitantes que por lá param.
Na Islay também não existem muitas estradas principais. São apenas duas que passam pelas povoações e de resto são tudo caminhos alternativos apenas com uma via e dois sentidos.
Bruichladdich
Em primeiro lugar, páramos na destilaria de Bruichladdich. É um espaço que produz principalmente whisky escocês single malt mas também tem outras alternativas como o gin artesanal. Ainda era cedo e já se percebia a grande afluência de turistas na vila.
Port Charlotte
Associada a esta destilaria está outra vila para a qual partimos logo que pudemos: Port Charlotte. Fomos mais pela curiosidade de passear e tentar absorver um pouco mais desta cultura. É um lugar muito pitoresco com as casas quase todas iguais, com tons brancos e telhados pretos como nas destilarias que já tinhamos visitado. Mesmo sendo uma povoação pequena, existem museus, um hotel e um farol que dão mais vida a esta vila.
Bunnahabain
Em seguida, continuamos o nosso percurso para Norte, mais especificamente para Bunnahabain. Esta destilaria localiza-se perto de Port Askaig e faz parte de uma aldeia que foi fundada para albergar os seus trabalhadores (hoje em dia só a destilaria é que funciona no local). Bunnahabain produz um dos whiskys mais leves e o seu sabor varia muito de outras bebidas espirituosas da própria ilha.
Jura
A caminho desta destilaria temos contacto com a ilha de Jura. É um lugar também produtor de whisky mas com apenas uma destilaria na capital Craighouse que já foi considerada uma das melhores do mundo. No entanto, Jura é um lugar que marca muito mais pelas paisagens e pela diversidade de espécies que podemos encontrar. Não é por acaso que a ilha tem um dimensão muito semelhante à Islay mas tem menos de 200 habitantes.
Bowmore
A destilaria do dia era a de Bowmore e por isso foi para lá que nos dirigimos numa das últimas paradas do dia. Fomos para a festa da destilaria, tendo-nos dado à entrada um saco com um copo e uma pulseira que nos dava o direito de provar dois tipos de whisky diferentes. Foi uma tarde muito idêntica à que passamos no dia anterior em Laphroaig com muita música e espaços de comida e degustação.
Neste dia não cometemos o mesmo erro e por isso às 17h30 já estávamos a seguir para um restaurante para termos a sorte de arranjar lugar para jantar! Ainda assim, também houve tempo para darmos uma volta pela vila que é uma das maiores e mais movimentadas da ilha. Foi interessante perceber que, pelo menos nesta altura, as destilarias são muito mais importantes que qualquer outro espaço da vila.
Sarau de whisky com Robin Laing
Por fim, o dia não iria terminar sem voltarmos a Bruichladdich para assistirmos a uma espécie de sarau sobre whisky. O artista era Robin Laing, um compositor de música folk que acompanhado pela sua guitarra compôs canções sobre whisky ao longo da sua vida. Um espectáculo imperdível do qual não nos arrependemos de ter entrado. A entrada (paga) dava direito à prova de dois tipos de whisky e, da mesma forma, havia outros espetáculos como este agendados para todos os dias nas outras vilas de Islay.
Dia 3, Um até já (?):
Desmontamos o campo neste dia para nos prepararmos para a grande partida da ilha. Voltamos a tomar mais um pequeno-almoço na cafetaria do The Islay Hotel e mais uma vez não nos desiludimos.
Tinhamos de estar bem cedo na destilaria de Ardbeg para comprar um garrafa de edição limitada. A loja apenas vende cerca de 50 garrafas por dia e apesar de abrir às 9h30, há uma regra na Escócia em que o álcool só pode ser vendido a partir das 10h da manhã para prevenir problemas com o álcool que são muito comuns neste povo.
Esta visita à Islay fica marcada como uma das viagens mais diferentes que fiz! Geralmente há sempre um plano para onde quer que vamos mas aqui é mesmo para nos deixarmos levar pela estrada de uma forma espontânea.
Achei incrível o facto de maior parte das famílias conseguirem assentar neste lugar e não haver muito aquela pressão de que as pessoas têm de ir para as grandes metrópoles à procura de oportunidades (como acontece muito em Portugal). Aqui as oportunidades estão nas destilarias, nos restaurantes e outros estabelecimentos onde existe muita gente jovem e recordo-me que, por exemplo, em Ardbeg a visita foi feita por uma jovem que devia ter pouco mais de 18 anos e sabia a história do lugar como se fizesse aquele roteiro a vida toda.
Portanto, falar da história de Islay não é destacar apenas o whisky. As pessoas que fazem parte deste lugar são verdadeiramente genuínas e devem ter tanto ou maior destaque por continuarem com tradições que resistem, literalmente, há séculos e se não for pelo whisky, há sempre outros motivos que me dão razões para voltar.
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Autor do projecto Num Postal, arquitecto de profissão, fotógrafo nas horas vagas e apaixonado por viagens. Criei o blog para que não me escape nada das minhas aventuras pelo mundo, para partilhar com os outros e para eu reviver cada uma destas experiências! Depois de viver uma temporada no Brasil, percebi que há todo um universo lá fora para descobrir e desde então nunca mais parei de ir à procura de lugares desconhecidos.
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