MANCHESTER,
AO RITMO DO ROCK
O coração da revolução industrial, a praga das abelhas operárias e o berço cultural do país
PUBLICADO A 2 DE ABRIL DE 2020 | VIAGEM DE 25 A 28 DE ABRIL DE 2019
Em plena semana com feriado nacional, olhei para o o mapa e entrea as viagens que mais compensavam financeiramente, sobressaiu Manchester. Além disso, notei que Liverpool era lá perto e por isso achei a oportunidade perfeita para ir a duas cidades onde nunca tinha estado e que tinha bastante interesse em conhecer.
Manchester é uma cidade com um carácter muito industrial dando quase a ideia que, arquitectonicamente falando, ficou parada no tempo. Dessa forma, é muito notório os edifícios em tijolo à vista que fazem parte do período industrial no qual esta cidade teve um impacto gritante. Foi aqui, por exemplo, onde se construiu a primeira linha férrea (com destino para Liverpool) ou onde se desenvolveu a primeira máquina a vapor.
No entanto, é uma cidade que se tenta modernizar rapidamente para chegar ao patamar de outras metrópoles mais desenvolvidas como Londres. É um lugar com um sistema de transportes incrível, com espaços muito interessantes para visitar e onde surgiram quase todas as bandas britânicas que conhecemos. São muitas histórias para contar.
A fim de ser uma viagem produtiva, apanhei um avião cedo desde Lisboa até Manchester e do aeroporto inglês apanhei um comboio até ao centro da cidade. A saída da estação de comboio foi muito agradável e isso é meio caminho para que comece a tirar notas positivas do lugar onde cheguei. Depois foi ir até ao hostel para deixar a minha mochila para logo a seguir voltar a sair à descoberta deste lugar.
Dia 1, Muita história se contou:
Alan Turing Memorial
Nas minhas viagens gosto sempre de fazer um Free Walking Tour, é a melhor forma de descobrirmos um lugar em pouco tempo e de receber as primeiras dicas para nos conseguirmos orientar. Em Manchester não foi excepção e este percurso começou em Sackville Gardens, um jardim muito simples onde se encontra o Alan Turing Memorial. Aqui começamos logo a levar com uma descarga de história mas daquelas que até valem a pena ouvir.
O memorial é um monumento erigido ao homem que inventou o primeiro computador da história mas também por ser um símbolo de todas as personalidades importantes que nasceram nesta cidade. Manchester é uma cidade que viu crescer várias personalidades em diversos ramos culturais como David Beckham (futebol), J. K. Rowling (literatura) ou Danny Boyle e Ben Kingsley (cinema), entre muitas outras. No entanto, onde mais se destaca é na música onde viu surgir bandas como Joy Division, Simply Red, Oasis, Chemical Brothers ou The Ting Tings.
Abelhas operárias
O roteiro começou naquele parque por outro motivo muito interessante. No centro do jardim, está uma estátua de uma abelha que para quem não sabe é o símbolo da cidade de Manchester. A abelha simboliza os operários na época da revolução industrial que tanto fizeram crescer esta cidade. É uma forma de realçar o trabalho dos seus antepassados e invocar uma memória que não se quer perder. As abelhas estão mesmo integradas em vários lugares da cidade, desde os passeios aos caixotes do lixo como nos murais dos edifícios.
A próxima paragem seria ao lado de um parque de estacionamento perto da estação de Oxford Road. Não é um ponto de interesse turístico mas aqui podíamos perceber pela paisagem o que é a cidade de Manchester. Por trás de um aglomerado de edifícios em tijolo há sempre uma grua ou edifícios altos em construção que demonstram como a cidade se pretende transformar.
Antes de chegar a Manchester diziam-me que possivelmente ia achar uma cidade estranha por ser tão industrial mas esta diferença em relação a outras cidades é intrigante e de certa forma fascinante por ter uma identidade tão própria. Continuava a seguir as ruas da cidade e verificava uma homogeneidade tão regular que nunca pensei que fosse tão interessante. É incrível como uma cidade com tanta tradição consegue (ainda) manter grande parte da sua génese.
Canal Street
Ia chegando a Canal Street, que fica na região LGBT de Manchester e aqui voltamos um pouco atrás para falar do memorial a Alan Turing que não foi só alguém que se destacou pela sua genialidade… A sua vida pessoal era um assunto importante na ordem do dia pelo facto de se assumir como homossexual, algo ilegal no seu tempo. É por isso um ícone gay da cidade, sendo que a escolha da localização da sua estátua (no jardim à margem desta rua) não foi por acaso… Aliás, Manchester é mesmo considerada a capital gay do Norte de Inglaterra por ali se encontrar uma das maiores e mais destacadas vilas homossexuais do país.
St. Peter’s Square
Estávamos a caminho de St. Peter’s Square, uma das principais praças da cidade onde apenas peões e eléctricos podem circular, havendo uma liberdade imensa para as pessoas se deslocarem. À entrada desta praça, passamos pela estátua de Emmeline Pankhurst, uma personalidade de Manchester que foi uma das fundadores do movimento do britânico do sufragismo que lutava pelo direito ao voto das mulheres. A sua luta foi um sucesso e dessa forma construíram esta estátua pela sua importância.
Central Library
No entanto, na praça o que se destaca mais é a Central Library que hoje em dia é mais do que uma típica biblioteca. Depois dos seus trabalhos de renovação, preservou-se algumas das salas mais antigas e criou-se vários espaços de exposição, cafetarias e outros espaços interactivos para atrair todo o tipo de públicos. Hoje em dia é um espaço de ponto de encontro entre as pessoas.
Midland Hotel
Ao lado da biblioteca está o Midland Hotel, um dos mais antigos da cidade com algumas das histórias que envolvem diversas personalidades. Dizem que este foi o hotel que Hitler decidiu poupar nos ataques da Segunda Guerra Mundial para que fosse preservado a pensar num futuro nazi em Inglaterra, onde o casal Victoria e David Bechkam tiveram o seu primeiro encontro e onde os Beatles foram corridos a pontapé (isto explica-se pela grande rivalidade que existe entre a cidade de Manchester e Liverpool).
Theatre Royal e Free Trade Hall
Logo depois do hotel estavam dois edifícios históricos da cidade. Em primeiro lugar o Theatre Royal do século XIX que foi mais um dos sobreviventes da Segunda Guerra Mundial e é considerado o teatro mais antigo da cidade que está actualmente desocupado. Em seguida temos o Free Trade Hall, um salão público que após a guerra teve já diversas utilizações, sendo hoje mais um hotel na cidade.
Albert Square e Town Hall
Outra das praças bem chamativas da cidade é a Albert Square, onde se situa a Town Hall de Manchester. É o edifício mais alto da cidade e um dos mais importantes. Apesar de se parecer com uma igreja com o seu estilo gótico, é aqui que funciona a Câmara Municipal de Manchester. É um lugar que se pode visitar mas dado aos seus trabalhos de renovação apenas será possível fazê-lo em 2024.
St. Annes Square
De praça em praça fui até St. Annes Square, onde se situa St. Ann’s Church, uma igreja anglicana. É uma igreja pequena mas que tem um papel fundamental na história da cidade, já que quando Manchester ainda era uma cidade pequena, foi à volta desta igreja que se centrava o quotidiano da sua população.
Royal Exchange Arcade
Perto deste largo encontra-se o Royal Exchange Arcade, na Exchange Street, um complexo que inclui o Royal Exchange Theatre e o Royal Exchange Shopping Centre. Antigamente era o centro do comércio mundial de algodão que actualmente dá lugar a espaços de retalho de luxo com algumas das marcas de mais alto nível que acentuam a qualidade do espaço.
Shambles Square
Por fim, chegamos a último ponto do tour na Exchange Square, no fim da Exchange Street. Um lugar sem grande história, ainda mais quando ao lado está a Shambles Square que lhe tira todo o protagonismo. Esta pequena praça abriga alguns restaurantes e bares e os seus edifícios são diferentes de tudo o que há na cidade, lembrando as pequenas casas das aldeias alemãs mais tradicionais.
Catedral de Manchester
Atrás da Shamble Square situa-se a Catedral de Manchester que acabei por visitar. É uma igreja em estilo gótico que é o centro paroquial da diocese anglicana de Manchester. Independentemente da religião, os principais centros de cultos das cidades são sempre incríveis ao passo que este era mais um dos muitos lugares com este cariz que valia a pena visitar. O seu interior destaca-se pela construção da igreja em pedra e pelos seus vitrais que dão uma luz diferente ao recinto e transmitem uma serenidade que o lugar requer.
Picadilly Gardens
Em seguida, andando pela Market Street, uma das ruas pedonais mais comerciais da cidade, cheguei a Picadilly Gardens. Um largo com um jardim e algumas estátuas que tem como principal destaque o monumento à rainha Victoria. Este é igualmente um dos principais pontos de transportes onde várias linhas de autocarros e eléctricos se cruzam para chegar aos vários pontos da cidade. O sistema de transporte funciona tão bem que o eléctrico é muitas vezes a melhor opção quando se tem de fazer grandes distâncias.
Estádio Old Trafford
A chegada a Picadilly Gardens tinha como objectivo apanhar um transporte que me levasse ao Old Trafford Stadium. Old Trafford é um bairro na periferia de Manchester que acolhe um dos clubes de maior sucesso a nível mundial, o Manchester United. O Manchester City é o outro clube da cidade mas não tem a mesma história e tradição que o United.
O estádio de Old Trafford é o segundo maior de Inglaterra e foi em tempos apelidado pelo “Teatro dos Sonhos” pelas inúmeras conquistas que o clube teve ao longo da sua história. Cheguei para a visita que começa com uma primeira exibição da história do clube num pequeno museu que foi montado para esse efeito. A visita propriamente dita foi realizada por um guia que nos levou a ver várias perspectivas do estádio, fomos aos bastidores no qual inclui os balneários ou a sala de conferências, entramos no campo pelo corredor de acesso dos jogadores e sentamo-nos nos bancos das equipas. A visita tem de ser marcada online.
Chinatown
De regresso ao centro da cidade, parei em St. Peters Square para que a partir daí ir até à Chinatown. A entrada no bairro é marcada por um pórtico bem pequeno (se pelo menos compararmos com o de Liverpool), é um lugar muito sossegado que ainda apossui um largo com alguns efeitos chineses nas suas cobertura e vedações e foi aqui que terminei o meu dia.
Dia 2 e 3, Uma visita rápida à cidade rival:
Um dos meus objetivos desta viagem era também ir a Liverpool e por isso tirei dois dias para visitar a cidade. Apanhei um comboio bem cedo para aproveitar estes dias e, dada a grande proximidade entre as duas metrópoles, o transporte demora entre 30 minutos a 1 hora (depende das linhas). Os comboios saem da estação de Manchester Victoria, uma das estações mais importantes da cidade juntamente com a estação de Manchester Piccadily que faz o transporte até ao aeroporto.
Dia 4, Enriquecer culturalmente:
Já que uma boa parte do meu roteiro estava feito, reservei este dia para ver alguns museus. Desta vez, e porque maior parte dos hostéis ao fim-de-semana não deixam reservar apenas uma noite, acabei por ficar instalado numa área diferente da cidade, mais propriamente na zona de Castlefield.
Castlefield
Este é o coração industrial de Manchester e um dos locais que preserva melhor as tradições desta cidade. Este bairro foi o local onde nasceu a revolução industrial com a construção da primeira estação ferroviária. Desse modo, não é de estranhar que neste bairro se insere o Museu da Ciência onde está exposto aquele que foi o primeiro comboio do mundo (mas já lá vamos…).
Imperial War Museum
Assim que cheguei à estação de Deansgate apanhei o eléctrico para o primeiro museu do dia, o Imperial War Museum. Numa zona afastada do centro, tive de apanhar o eléctrico (que em algumas zonas são mais parecidos com comboios) até ao bairro de Trafford Park, uma zona da cidade muito mais moderna que se desenvolve à volta de um rio. Este é um dos cinco museus que se encontram no Reino Unido com esta temática e a entrada é gratuita como acontece em quase todos os museus em Inglaterra. A exposição permite transmitir os acontecimentos que envolveram o território britânico desde a Primeira Guerra Mundial até aos dias de hoje.
Northern Quarter e Hard Rock Cafe
Voltei a Piccadily Gardens e antes que voltasse a entrar em museus, passei por mais dois lugares que tinha curiosidade em conhecer. Em primeiro lugar fiz um desvio até Nothern Quarter, o bairro hipster da cidade e um dos mais alternativos. Logo depois fui até ao Hard Rock Cafe de Manchester, que em todas as minhas viagens já se torna uma visita obrigatória.
Museu do Futebol
Junto ao Hard Rock, está o Museu do Futebol (infelizmente este já tem um custo mas eu tinha mesmo de entrar). É um edifício tipicamente moderno que tem marcado no pavimento exterior algumas das principais lendas do futebol mundial. A exposição está dividida em 3 pisos e mostra aquilo que é a história do futebol através imagens, vídeos e colecções antigas, há um piso dedicado ao mundial de 1966 conquistado pela selecção inglesa e ainda tem uma série de actividade interactivas.
Estava um dia com muito sol (o primeiro que apanhei destes quatro dias em Inglaterra) e por isso aproveitei para ir a alguns lugares onde tinha estado à uns dias atrás. Ao lado do Museu do Futebol encontra-se a Catedral de Manchester e aproveitei para tirar mais umas fotografias para aproveitar a luz. Logo depois, apanhei a Exchange Street que me levou até St. Anne’s Square e St. Ann’s Church, acabando este percurso na Town Hall onde acabei por almoçar.
John Rylands Library
Da parte da tarde, fui até à John Rylands Library, a maior biblioteca do Reino Unido que está associada à Universidade de Manchester. É um edifício neogótico que é mais parecido com uma catedral que contém as colecções de livros mais completas do Reino Unido onde se destaca o exemplar mais antigo do Novo Testamento. No interior o edifício é todo revestido em pedra dando até a alusão que estamos num cenário do Castelo de Hogwarts dos filmes do Harry Potter.
People’s History Museum
Atrás da biblioteca está o People’s History Museum,. Focado na história da democracia no Reino Unido, abrange igualmente vários temas como o movimento sufragista feminino ou o sindicalismo do século XIX. Uma das exposições que mais gostei foi sobre o Massacre de Peterloo, um acontecimento em St. Peter’s Field (actual St. Peters Square) no início do século XIX, que decorreu num período de tensão política em que apenas uma minoria tinha direito ao voto num país que passava fome. Estes e outros motivos levaram a que cerca de 60.000 a 80.000 pessoas se reunissem em St Peters num protesto em prol da liberdade.
O resultado não podia ser mais desastroso quando a cavalaria chegou e atropelou a multidão, deixando mais de 700 pessoas feridas, entre os quais estima-se que 18 dessas pessoas perderam a vida. O nome de Peterloo resulta de uma comparação com a Batalho de Waterloo pelas consequências catastróficas que ambas trouxeram ao povo. Como resultado desta exposição, gerou-se um mural na parte de trás do museu como uma homenagem às vítimas destes incidentes.
Museu da Ciência
Antes que chegasse ao hostel para pegar as minhas coisas, fiz uma última paragem no Museu da Ciência. É um espaço que se destaca pelo desenvolvimento da ciência e tecnologia no período industrial, com destaque para o primeiro comboio (como falei mais acima). Está situado no mesmo local da primeira estação ferroviária e, para além desta temática dos transportes, dá também destaque a assuntos como o esgoto sanitário e saneamento, a indústria têxtil, as comunicações e computação através de artigos antigos e actividades interactivas.
Depois de tantas voltas, restava-me pegar na mochila, ir até à estação de Oxford Road e regressar ao aeroporto de volta a casa.
Foram dias muito bem passados que deram para ter a experiência completa em território britânico com os dias de chuva e sol, os pequenos-almoços tipicamente ingleses, a ida a estádios, museus, bibliotecas, igrejas e aos pubs.
Em resumo, dois dias foram suficientes e creio que consegui ver tudo o que queria. Acabei por aterrar na cidade sem saber muito bem o que me podia esperar mas consegui ser muito surpreendido, de uma forma bastante positiva. Nunca pensei que Manchester transpirasse tanta cultura e pudesse ter um impacto tão grande na história deste país. Foi uma agradável surpresa e que mais viagens sejam como esta!
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Autor do projecto Num Postal, arquitecto de profissão, fotógrafo nas horas vagas e apaixonado por viagens. Criei o blog para que não me escape nada das minhas aventuras pelo mundo, para partilhar com os outros e para eu reviver cada uma destas experiências! Depois de viver uma temporada no Brasil, percebi que há todo um universo lá fora para descobrir e desde então nunca mais parei de ir à procura de lugares desconhecidos.
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