MARRAQUEXE,
UM TESTE AOS CINCO SENTIDOS

A imprevisibilidade desconcertante pelas ruas da Medina, todos os caminhos vão dar a uma das praças mais carismáticas do mundo e a fonte de inspiração de Yves Saint Laurent

PUBLICADO A 24 DE MAIO DE 2023 | VIAGEM DE 7 A 13 DE MARÇO DE 2023

Ao contrário do que seria de esperar, cheguei a Marraquexe de comboio, depois de uma longa viagem desde Casablanca. As paisagens verdejantes começavam a assumir tons alaranjados e as brisas constantes ficavam para trás à medida que entrava num contexto mais árido e solarengo. Ao fim de 2h30 cheguei ao destino e fiquei imediatamente estupefacto quando no horizonte era bem perceptível as Montanhas do Atlas cobertas de neve, contrastando de uma forma gritante com a sensação térmica de 30º que se sentia na cidade. E foi assim, com tantos contrastes e outras coisas que não faziam muito sentido que passamos os dias na cidade vermelha…

Marraquexe é um chamariz que põe à prova os cinco sentidos pelo ambiente frenético das ruas, os cheiros e sabores dos mercados, a persistência dos comerciantes e uma vida tão vibrante que nos faz estar sempre atentos ao que se passa à nossa volta. À sua maneira, emana uma magia que prende cada visitante a absorver da melhor forma o que a cidade tem para oferecer.

Neste mundo de sensações, estive por Marraquexe em duas ocasiões distintas. Durante 7 dias, estive com um grupo da Marrocos.com numa viagem que me levou igualmente a explorar toda uma cultura que até então desconhecia. Numa primeira fase passamos uma tarde pela Medina e só depois de andarmos pelo deserto e outros lugares incríveis deste país, voltamos a Marraquexe para uma visita mais cultural durante 2 dias.

Praça Jemaa el-Fna

Mal cheguei ao Riad onde fiquei instalado, dirigi-me a um dos lugares mais emblemáticos da cidade: a Praça Jemma el-Fna. Inicialmente estranhei a falta de movimento com uma praça relativamente vazia. A verdade é que cheguei a meio da tarde e muitos dos vendedores protegem-se do sol se não tiverem uma sombra à mão.

Quando o sol se põe, aí sim passamos de uma quase tranquilidade para o “caos”! A confusão instala-se com bancas improvisadas, encantadores de serpentes, os macacos que subiam aos ombros dos turistas para nos cobrarem fotos, vendedores de sumos, restaurantes que se abrem para a rua, as mulheres berberes a tatuar com hena… É um misto de peripécias sem fim que vai variando os seus protagonistas ao longo do dia.

Quando a noite cai, não há melhor opção do que ficar numa das várias esplanadas para a praça enquanto se assiste à transformação deste lugar. Há sempre algo a acontecer e por isso é esta praça é um dos lugares mais vibrante e carismáticos de Marraquexe!

Mesquita de Koutoubia

Numa das entradas para a Praça Jemma el-Fna encontramos no fundo uma torre que se destaca no skyline da cidade. Falamos da Mesquita da Koutoubia, uma das maiores do mundo islâmico e a mais importante de Marraquexe. A entrada proibida a não muçulmanos, como acontece habitualmente nas mesquitas, limita-nos a disfrutar deste espaço pelo exterior através dos seus jardins.

Medina e os Souks

Nenhuma visita a Marraquexe pode ficar completa sem o passeio pela Medina. Nesta zona muralhada da cidade antiga, desenvolvem-se os Souks que se tornaram uma perdição para os turistas. Foram vários os momentos em que caminhamos por estas ruas sem qualquer rumo e nem de outra forma teríamos uma experiência melhor!

Desde a deixar-nos envolver pelas lojas, os desvios das motas nas ruas estreitas ou o contacto com os vendedores, acontece tudo muito rápido e de uma forma especial. As abordagens são constantes assim como um bom regatear de preços é imperativo. Por vezes, até existe um certo drama que faz parte de uma boa encenação. A ideia é baixar sempre os valores já que para os viajantes inflacionam os preços até duas ou três vezes mais.

Esta área é um labirinto gigante ao qual, com algum sentido de orientação, não é assim tão difícil de irmos dar aos locais de interesse. Isto para dizer que é possível visitar todos estes lugares de forma autónoma. Ainda assim, nós tivemos a sorte de na segunda parte da viagem termos um guia connosco (destacado pela agência que nos acompanhou) e foi importante apenas para nos dar algum contexto cultural e histórico da cidade. Em relação a outro tipo de “guias”, é preciso ter algum cuidado porque toda a boa vontade tem um preço e se dermos muita confiança nas ruas a quem nos abordar, estará sempre à espera de uma recompensa.

À noite, o modo de vida varia por completo, transformando a agitação do quotidiano num autêntico deserto. A esta altura do dia há pouca iluminação e as ruas tornam-se estranhas…. Isto acontece porque é tudo transposto para a Praça Jemma el-Fna, o palco principal da vida nocturna na cidade.

Madraça Ben Youssef

Este foi um dos meus lugares preferidos de Marraquexe! O lugar estava bastante cheio no dia em que visitei (era domingo, erro crasso…) mas o espaço é encantador e tem detalhes muito interessantes, não fosse este um dos mais belos exemplos de arte e arquitectura da cidade.

A Madraça Ben Youssef, fundada no século XIV, foi o local de aprendizagem do Alcorão que permitiu hospedar mais de 900 estudantes nos seus 130 quartos. Construída com materiais como madeira de cedro, estuque trabalhado e mármore, o edifício centra-se num grante pátio com um pequeno espelho de água no centro.

Uma pausa para chá

De saída da Madraça, fizemos um intervalo no passeio junto à Qubba Almorávida (uma construção medieval que era um espaço de purificação dos fiéis) para beber um chá. Foi na Herboriste du Paradis que tivemos uma aula sobre algumas plantas e outros produtos naturais que de seguida viríamos a comprar para trazer uma lembrança deste país.

Museu Dar El Bacha

Uma vez que andava meio perdido pela Medina, acabei por ir a encontro do Museu Dar El Bacha. Como quase todos os palácios antigos, este não é diferente e também se desenvolve à volta de um pátio com um fonte. Bastante rico com as suas arcadas e uma diversidade extensa de azulejos coloridos, o museu abriga os largos anos da rica cultura e história da cidade, pelo que vale bem a pena fazer um desvio para o visitar.

Palácio da Bahia

Do lado oposto do centro histórico, encontramos o Palácio da Bahia às portas do bairro judeu. Este monumento construído no final do século XIX em estilo árabe-marroquino. São diversos pátios e salas com ornamentos próprios do seu estilo que demoraram mais de uma década para se construir. O nome do palácio significa “Brilhante” mas há muitas teorias se esse seria mesmo o nome do Palácio ou se era o nome da mulher preferida do vizir…

O palácio possui 150 quartos e, embora não seja tão impressionante como a Madraça Ben Youssef, é uma das obras mais importantes de Marraquexe, tendo sido construído com o objectivo de ser umas das obras primas mais impressionantes de todos os tempos.

Mellah, o bairro Judeu

Com uma atmosfera muito mais tranquila em relação a outros lugares da cidade, chegamos ao bairro judeu de Mellah. Pode haver alguma desconfiança pelo pouco movimento nestas ruas mas temos de tudo um pouco como noutras áreas da cidade, desde pequenos mercados a pessoas que rezam na rua e outros monumentos importantes.

Aqui encontramos algumas diferenças com o resto da medina. As varandas e janelas abrem.se para as ruas, as casas são mais altas, os apartamentos mais pequenos e é daqui que vêm os tradicionais joalheiros espalhados por Marraquexe. Numa das entradas para este bairro localiza-se umas das minhas praças favoritas onde passei algum tempo e tomei certas refeições, a Place des Ferblantiers.

Palácio El Badi

O Palácio El Badi é um dos monumentos mais importantes do bairro judeu. Construído no final do século XVI pelo sultão Ahmed al-Mansour para comemorar a derrota dos portugueses em Wed al Makhazín (a Batalha dos Três Reis). Actualmente, restam as suas ruínas e alguns espaços que contam melhor a história do palácio. O pátio interior está ligado a diversas salas que abrigam exposições temporárias assim como variados eventos que chegam à cidade.

Túmulos Saadianos e Bab Agnaou

Se estiver junto ao palácio, é de aproveitar a visita aos Túmulos Saadianos. Para meu espanto, é um dos lugares mais visitados de Marraquexe. Não que não tenha nenhum interesse mas porque é um espaço que nem é muito chamativo pelo facto de se localizar nas traseiras da Mesquita Moulay El Yazid.

Estas tumbas datam do século XVI e abrem ao público em 1917, o mesmo ano em que foram descobertas. Composto por um jardim que antecede três espaços diferentes, podemos ver cerca de 60 tumbas que correspondem às sepultura dos membros da dinastia Saadiana. A sala mais prestigiada é a sala das doze colunas onde as pessoas até fazem fila para a visitar.

Aqui perto, está uma das 19 portas de entrada na medina de Marraquexe: Bab Agnaou. É provavelmente a mais famosa e mais estimada das entradas, construída no século XII e que marca a entrada no bairro de Kasbah.

Jardim Majorelle

No meu último dia em Marraquexe, tive apenas uma manhã para dar pequenas voltas que começaram com a visita ao Jardim Majorelle. Este lugar colorido foi criado por Jacques Majorelle, um pintor francês que se estabeleceu em Marraquexe em 1919 e desde 1980 que é propriedade de Yves Saint Laurent, um refúgio que serviu como fonte de inspiração para as suas colecções. Além das cores fortes que são uma ode à cultura marroquina, o jardim é famoso pela enorme variedade de plantas que Majorelle trazia das suas viagens, desde os catos às palmeiras como do bambu às plantas aquáticas.

Qualquer visita ao espaço tem sempre de ser comprada online no site da Fundação Jardim Majorelle. Para tornar a visita ainda mais enriquecedora, é possível comprar uma extensão do bilhete que dá acesso ao Museu Pierre Bergé com sede na casa principal, onde se pode ter uma melhor ideia do passado da cultura berbere. A outra extensão é a visita ao Museu Yves Saint Laurent que aborda a história de vida do estilista.

Outras actividades

Marrocos é um país como uma diversidade brutal de actividades e muitas estão à volta de Marraquexe. Algo de que me arrependo é não ter tido mais tempo para me aventurar numa excursão de um dia até algum destes lugares imperdíveis. Com muita sorte, passamos pelas Montanhas do Atlas ou o Ksar Aït-Ben-Haddou mas ficaram alguns programas de fora como uma visita às Cascatas de Ouzoud, às praias de Essaouira ou ao deserto de Agafay. A oferta é muita e por isso basta andar atento nas ruas da cidade porque não faltarão opções para nos levarem a estes lugares.

Marraquexe é uma cidade arrebatadora, confusa, vibrante, mágica, cansativa, inigualável e inesquecível! Pode ter tudo de bom como de mau e por isso é que tão especial. Tudo pode acontecer de uma forma inesperada mas se visitarmos Marraquexe com a mentalidade certa, teremos a melhor das experiências!

Em falta ficaram visitar dois jardins. Em primeiro lugar o Jardim Secreto que é descrito como uma dos mais encantadores da cidade só que a fila que encontrei à entrada fez-me desistir de visitá-lo. Os Jardins de Menara também me foram aconselhados com um dos melhores lugares para assistir ao pôr-do-sol só que ficou fora de mão para o tempo que tinha na cidade. De Marraquexe existem excursões até ao Toubkal, o ponto mais alto do Atlas que se encontra a 4167 metros de altitude. É algo que um dia vou querer fazer e por isso já terei motivos mais que suficientes para voltar!

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Autor do projecto Num Postal, arquitecto de profissão, fotógrafo nas horas vagas e apaixonado por viagens. Criei o blog para que não me escape nada das minhas aventuras pelo mundo, para partilhar com os outros e para eu reviver cada uma destas experiências! Depois de viver uma temporada no Brasil, percebi que há todo um universo lá fora para descobrir e desde então nunca mais parei de ir à procura de lugares desconhecidos.

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