OURO PRETO,
OS MIRANTES INTERMINÁVEIS

Os declives que revelam as tradições coloniais, as igrejas que nunca abrem e um lugar onde há sempre um ponto de vista diferente

PUBLICADO A 24 DE FEVEREIRO DE 2020 | VIAGEM DE 10 A 11 DE SETEMBRO DE 2017

Estava de volta a Minas Gerais, o melhor estado do Brasil que me tinha deixado muitas saudades. O destino era Ouro Preto, conhecido entre os portugueses como o lugar de onde foi extraído o ouro para Portugal (que nós roubamos como os brasileiros dizem) através dos caminhos que nos levam até Paraty.

Apesar de se localizar na montanha e parecer quase uma aldeia, Ouro Preto é o lugar mais visitado do interior do Brasil. São muitas as igrejas, museus e as ruas com as marcas da época colonial que todos os anos atraem milhares de visitantes para verem bem de perto o legado que os portugueses deixaram aqui. A vida académica é outro factor de desenvolvimento da cidade e são muitas as repúblicas que conseguimos encontrar e agitam a noite deste lugar.

A viagem até Ouro Preto começou no dia anterior à minha chegada… Depois de sair de Fortaleza no início da noite, fiz uma escala de nove horas no Aeroporto de Guarulhos em São Paulo (onde passei a noite porque não valia pena ir até à cidade) e só no dia seguinte de manhã é que apanhei um voo até Belo Horizonte. No Aeroporto de Confins (que é mesmo nos confins do mundo) demorei pouco mais de uma hora até ao terminal rodoviário de Belo Horizonte e daí foram mais duas horas de autocarro até Ouro Preto, onde cheguei já perto do fim do dia.

É possível fazer uma viagem de ida e volta de um dia a partir de BH mas como já sabia que chegava tarde a Ouro Preto reservei dois dias para visitar a cidade. Fiquei em casa de uns estudantes depois de ter conhecido a Clara pelo Couchsurfing e embora andasse muito por minha conta na cidade eles foram sempre impecáveis comigo.

Dia 1, Um pequeno reconhecimento:

Depois de chegar a Ouro Preto, ainda fiz um percurso de 10 a 15 minutos a pé para casa da Clara e dos seus colegas. Deixei as minhas coisas em casa e ainda aproveitei o fim de tarde pelo centro da cidade. Já dava para entender que não ia ter tarefa fácil nestes dias… Com a cidade a desenvolver-se nas encostas, há sempre um caminho íngreme para percorrer na cidade e mesmo a descer todo o cuidado é pouco…

Ouro Preto, os mirantes intermináveis_Num Postal
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Igreja de São Francisco de Assis

No meio das ruelas da cidade acabei por ir dar à Igreja de São Francisco de Assis, uma das mais bonitas da cidade com um estilo Barroco e vários elementos decorativos do Rococó. É uma das referências da cidade e da arquitectura da época colonial. São muitas as igrejas que compõem a cidade e quase todas elas cobram a sua entrada ou estão fechadas ao público.

De frente da Igreja, tem um pequeno largo onde decorre todos os dias uma Feira de Artesanato, mais conhecida como a Feira de Pedra Sabão, devido ao grande número de artigo feitos com este material que é proveniente da vila de Santa Rita de Ouro Preto.

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Praça Tiradentes e Museu da Inconfidência

O principal cartão de postal da cidade é sem dúvida a Praça Tiradentes e é o lugar mais central de Ouro Preto. A praça é tão ampla quanto possível e possui uma estátua de Joaquim José da Silva Xavier, mais conhecido como Tiradentes, um revolucionário contra a corte portuguesa, um dentista de profissão (e assim ficou com esse nome) que teve exposta a sua cabeça na praça aquando da sua morte. Hoje em dia, visitar Ouro Preto significa percorrer esta praça e por isso é que ali estão alguns dos melhores restaurantes e lojas de artesanato.

Para além de todo o simbolismo à volta da praça, o Museu da Inconfidência é outro lugar que não deixa ninguém indiferente. Trata-se de um museu que retrata os anos de trabalho árduo nas minas e preserva a memória da cultura mineira onde se destacam os trabalhos de António Francisco Lisboa, mais conhecido como Aleijadinho. É normal ouvir esta referência ao longo da cidade… Quanto à vida nas minas, Ouro Preto foi um dos lugares onde se extraía a maior quantidade de matérias primas e é aqui que começa o tão conhecido Caminho do Ouro até Paraty, onde os portugueses descarregavam as suas carroças nos barcos de volta para Portugal.

Ouro Preto, os mirantes intermináveis_Num Postal
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Entretanto, o dia ia acabando e a cidade ganhava cores incríveis! Sem ter grandes planos, fiquei sentado num muro alto à beira da estrada a assistir a mais um pôr-do-sol inesquecível. Com tantos morros e mirantes na cidade, acaba por se tornar uma das melhores experiências em Ouro Preto. E para mim foi certamente! Era a melhor forma de acabar o dia.

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Dia 2, De cima a baixo:

Estando num meio montanhoso e no centro do país, o clima é muito mais frio que no Nordeste e então num período de dois dias passei de dormir numa rede para uma cama cheia de lençóis tal era o frio que se fazia sentir. Foi estranho mas é mais um daqueles episódios caricatos em que se vê que há de tudo neste país.

Comecei o dia com um pequeno-almoço inacreditável na Fábrica de Chocolates Ouro Preto, na Praça Tiradentes. Ali tudo vem acompanhado de chocolate e comi alguns dos melhores que já provei na vida!

No primeiro dia em Ouro Preto, fui aqueles pontos principais que é do conhecimento geral e por isso a melhor forma de descobrir novos lugares seria perder-me nas ruas da cidade. Foi o que fiz!

Ouro Preto, os mirantes intermináveis_Num Postal
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Passei por algumas das ruas mais movimentadas que são ocupadas com vários estabelecimentos comerciais no piso térreo. Claro que não tem o mesmo ritmo que uma grande capital mas há sempre alguém à procura de arranjar algo para levar de recordação… O mais gostei foi o contacto com a natureza e as “falhas” na paisagem que nos dão mais uma perspectiva diferente da cidade.

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Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos

Os vários caminhos de Ouro Preto levaram à Igreja de Nossa Senhora do Rosário, muito idêntica à Igreja de São Francisco de Assis. Destaca-se pela sua planta elíptica e é um dos expoentes máximos da arquitectura barroca em Minas Gerais.

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Basílica Matriz de Nossa Senhora do Pilar

Ao descer novamente a colina, cheguei à Basílica de Nossa Senhora do Pilar. Esta é uma das igrejas mais conhecidas dentro do leque de edifícios que foram construídos durante o ciclo do ouro. Apesar de não ter conseguido entrar no seu interior, dizem que é considerada a segunda igreja mais rica em peças de ouro do Brasil.

Ouro Preto, os mirantes intermináveis_Num Postal
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Coluna Saldanha Marinho e Estação Ferroviária

Continuei a descer enquanto pude e encontrei o primeiro lugar totalmente plano da cidade. Primeiro passei por uma praça muito agradável, a Praça Barão Rio Branco e no fim da rua deparei-me com mais outro largo com a Coluna Saldanha Marinho, o primeiro monumento público em homenagem aos inconfidentes que tal como Tiradentes protestavam contra o regime em busca de uma vida melhor.

A estátua estava mesmo ao lado da Estação Ferroviária que ali se encontra desde o final do século XIX. Embora o comboio seja um meio de transporte cada vez menos usado no Brasil, em Ouro Preto ainda funciona e eu só pensava em como seria incrível fazer uma viagem destas pelo meio dos montes e vales de Minas Gerais.

Ouro Preto, os mirantes intermináveis_Num Postal
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Morro da Forca

De onde estava, a única opção para me movimentar seria apanhar uma subida e como a que me esperava até ao Morro da Forca. Este lugar foi-me aconselhado pela Clara que me disse que era um sítio imperdível que não podia escapar do meu roteiro… E tinha razão! O morro era o palco onde os condenados eram executados na forca e hoje é um dos principais mirantes para a cidade. Aqui estamos mesmo no meio de Ouro Preto e por isso temos quase uma visão de 360º dos pequenos bairros que compõe a cidade.

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Igreja de São Francisco de Paula

Entre mais algumas descidas e subidas, ainda tinha de aguentar mais uma subida até à Igreja de São Francisco de Paula. Completamente isolada de toda a cidade, é a igreja que está no ponto mais alto e fica num morro onde predomina a densa vegetação. É uma igreja muito simples onde é possível ter mais uma vista diferente da cidade e embora não tenha conseguido entrar, é um local que apresenta mais um trabalho do Mestre Aleijadinho, a imagem de São Francisco de Paula.

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Igreja de Nossa Senhora das Mercês e da Misericórdia

Por trás da Igreja de São Francisco de Paula encontra-se o terminal rodoviário de Ouro Preto (de onde saí quando cheguei) e é a partir daqui que se faz o caminho até ao centro, passando pela Igreja de Nossa Senhora das Mercês e da Misericórdia. É mais uma igreja na cidade e nem é nada de mais… Ali está o principal comitê de boas-vindas através da panorâmica que destaca o Museu da Inconfidência e a Igreja de São Francisco de Paula.

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Mirante do Morro São Sebastião

Até agora o percurso foi todo feito na zona Poente da cidade e da parte da manhã. Depois de almoço estive mais a Nascente, tendo começado no Mirante do Morro São Sebastião. Este deve ser dos morros de onde é possível ter a melhor vista da cidade de um nível superior. Nem toda a gente conhece este morro e por isso acaba por ser um bom lugar para disfrutar em paz a vista para Ouro Preto.

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Igreja de Nossa Senhora do Carmo

Voltei a descer até ao centro, onde mesmo ao lado do Museu da Inconfidência ainda não tinha tirado um momento para olhar para a Igreja de Nossa Senhora do Carmo. É uma das mais belas igrejas de Ouro Preto e aqui acabei por entrar (apesar de ter pago 3 reais por isso). O interior é muito bonito, é muito ornamentado e bem conservado mas mais impressionante é a paisagem para a Igreja de São Francisco de Paula.

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Prosseguia na minha jornada rumo à descoberta da zona Leste da cidade. As casas brancas com os rebordos das portas e janelas em amarelo, vermelho e azul, faziam-me sentir cada vez mais numa aldeia portuguesa em que tudo é tão pacífico que às vezes é estranho. Ouro Preto mostrava-se um lugar diferente de tudo a que estava habituado e até aqui não podia pedir por um lugar tão tranquilo como este.

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Igreja Matriz de Santa Efigênia

Depois de apanhar a Rua de Santa Efigênica, continuei a subir até à Igreja com o mesmo nome. Toda a subida é uma experiência reveladora da paisagem que nos rodeia e quando chegamos lá acima conseguimos estar perante uma das minhas vistas favoritas de Ouro Preto. Ainda há um Cruzeiro perto num ponto um pouco mais alto de onde se consegue ter uma vista panorâmica melhor mas fui aconselhado por um dos habitantes dos bairro que aquela zona não era muito recomendável… De qualquer forma, a Igreja já parecia ser uma boa escolha para acompanhar o fim do dia e daqui é possível observar os principais monumentos da cidade.

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A cidade com a luz do fim do dia parece que ganha outro encanto! Entretanto tive de voltar para o centro onde ia encontrar-me com a Clara e o seu namorado, o Hamilton, para prepararmos um grande jantar para a minha última noite em Ouro Preto. No entanto, não quis deixar de acompanhar mais um pôr-do-sol e por isso voltei ao lugar onde estive no dia anterior.

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Mirante da UFOP

Para acabar o dia em beleza, a Carla e o Hamilton ainda me levaram de carro até ao Mirante da Universidade Federal de Ouro Preto onde consegui ver toda a cidade iluminada. Junto ao mirante está a Universidade que se encontra localizada num ponto mais alto como se estivesse a vigiar a cidade.

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Ficamos o resto da noite a comer e a trocar experiências de viagens! A Clara e o Hamilton tinham acabado de fazer um mochilão pela América do Sul durante sete meses e então houve muita partilha para enriquecer mais as nossas bucketlists. Ouro Preto é um lugar fantástico e ainda fiquei mais satisfeito por conhecer estas pessoas que me trataram tão bem e ajudaram-me sempre que puderam! Passei mais uma noite em Ouro Preto e bem cedo no dia seguinte o Hamilton fez questão de me levar ao terminal rodoviário! Muito obrigado por tudo!

A minha ideia inicial quando pensei visitar a cidade era fazê-lo em apenas um dia e vindo de Belo Horizonte seria uma tarefa possível. De qualquer forma, num dia vê-se a cidade toda e ainda se consegue incluir um tour às várias minas existentes. Se ficarmos mais tempo em Ouro Preto é ainda possível visitar outras vilas à volta como Mariana, Ouro Branco ou o Parque estadual do Itacolomi.

Este foi um destino que me cansou imenso porque é preciso ter pernas para aguentar todos os declives pelo quais temos de passar para chegar aos principais mirante da cidade. O cansaço estava muito presente mas o esforço era sempre compensado com as panorâmicas incríveis com que era presenteado. É daqueles lugares que recordarei com muita saudade… O tempo é sempre curto e eu tinha de voltar à estrada, desta vez até Inhotim, a última paragem antes de regressar a Portugal.

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Autor do projecto Num Postal, arquitecto de profissão, fotógrafo nas horas vagas e apaixonado por viagens. Criei o blog para que não me escape nada das minhas aventuras pelo mundo, para partilhar com os outros e para eu reviver cada uma destas experiências! Depois de viver uma temporada no Brasil, percebi que há todo um universo lá fora para descobrir e desde então nunca mais parei de ir à procura de lugares desconhecidos.

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