PICO, O PONTO
MAIS ALTO DE PORTUGAL

A terra dos homens grandes, um pôr-do-sol inesquecível no topo do país e um horizonte envolto em rocha vulcânica

PUBLICADO A 31 DE DEZEMBRO DE 2020 | VIAGEM DE 9 A 12 DE NOVEMBRO DE 2020

Finalmente chegava o momento mais esperado! Subir o pico do Pico era um sonho que estava por realizar e foi principalmente por este motivo que alinhei fazer esta viagem. Já a ilha, que é a segunda maior dos Açores atrás de São Miguel, é dominada maioritariamente pela paisagem vulcânica, as vinhas e a caça de baleias.

Composta por uma imagem única, é inevitável olharmos para algum lado sem ter como plano de fundo a montanha que dá nome à ilha. O ponto mais alto de todo o território nacional, aclamado de Piquinho, está a 2351 metros de altitude e é muito visível desde o Faial, São Jorge e se tiver um tempo limpo é bem perceptível desde a Terceira.

Esta ilha surgiu de uma fractura tectónica da qual também deu origem ao Faial e toda a sua imagem vulcânica está muito inerente em toda a vida do Pico. As paisagens estão cobertas de rocha vulcânica aproveitada para fazer a divisão dos campos e construção de casas, algo que se vê com mais preponderância nos lajidos.

O Pico, apesar de ser a segunda maior ilha dos Açores, até tem menos habitantes que a ilha do Faial que é das mais pequenas. As três principais povoações são as Lajes do Pico, Madalena e São Roque do Pico. Foi nesta última que chegamos de barco desde São Jorge e seguimos com um transfer até ao nosso hotel na Madalena. Aqui montamos a nossa base para começar esta aventura!

Pico, o ponto mais alto de Portugal_Num Postal

Como preparar a subida ao Pico?

Não foi nem ao primeiro nem ao segundo dia no Pico que começamos a subida à montanha mas achei por bem começar logo pela melhor parte. A subida não é fácil e está sempre condicionada por diversos factores, tanto pelo tempo como pelas burocracias que são exigidas.

Em relação ao tempo, só ao terceiro dia na ilha é que conseguimos apanhar um céu descoberto e por isso não foi difícil decidir quando deveríamos subir ao Pico. O tempo é muito incerto nos Açores portanto há que estar preparado para organizar esta logística. Nós tivemos muita sorte e para se ter noção, uns dias depois o cume da montanha estava coberto de gelo…

Por outro lado, é necessário aceder ao site da Casa da Montanha para se fazer um registo com o dia da subida ao Pico. Existem alguns passos a preencher, nomeadamente se se pretende dormir na cratera e isso depois tem implicâncias no custo final a ser pago. Toda esta segurança é necessária por uma questão de preservação da montanha, já que a pernoita está condicionada a um máximo de 32 visitantes.

Nesta nossa experiência toda esta logística não foi tão necessária porque estávamos num grupo organizado e ainda tivemos um guia de montanha, o grande Manuel da Pico Me Up. Pelo que entendi, hoje em dia é mesmo obrigatório levar um guia de montanha para pernoitar na ilha e evitar resgates a meio da noite. Foi o que percebi mas de qualquer forma no site da Casa da Montanha estão lá todas as informações.

Pico, o ponto mais alto de Portugal_Num Postal

Subida ao Pico

Finalmente chegava o momento da subida ao Pico. A ideia era caminhar montanha acima para ver o pôr-do-sol, dormir na cratera e acordar bem cedo para no dia seguinte subir o Piquinho e ver o nascer-do-sol. É claro que também é possível subir e descer no mesmo dia, fica ao critério de cada um… Iniciamos o percurso na Casa da Montanha, entregamos a reserva do site e em troca deram um GPS a cada pessoa para saberem a nossa localização no caso de haver uma emergência.

A subida do ponto de vista físico é muito exigente e como tal é necessário alguma motivação, uma boa condição física e estar bem preparado. O desnível ainda são de 1100 metros desde a Casa da Montanha, portanto todas as gramas contam na mochila e quando quisermos voltar para trás ou libertamo-nos de alguma coisa já poderá ser tarde.

Até à cratera são 46 marcos que nos vão indicando o quão perto estamos de alcançar o topo. E o caminho é sempre a subir! Por vezes podemos ter de usar as mãos para ajudar numa subida que demora cerca de 3 a 4 horas. Não há um caminho certo a seguir, apenas temos a referência dos marcos que nos dão uma orientação da rota que devemos tomar. É por isso que nem sempre se torna fácil esta caminhada…

Quanto à nossa subida, o tempo estava muito favorável. Não estava frio nem calor e havia algumas nuvens para tapar o sol. Ainda conseguíamos ver a ilha do Faial ao fundo e até o parque de estacionamento da Casa da Montanhe estava perfeitamente enquadrado na paisagem. A nossa primeira paragem foi na Furna do Abrigo, uma cavidade vulcânica coincidente com o primeiro marco do percurso. A subida depois continuou e entramos pelo mítico nevoeiro adentro.

Pico, o ponto mais alto de Portugal_Num Postal
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Chegada à cratera

A entrada pelo nevoeiro foi incrível, ficamos sem noção do ponto de onde estávamos e a melhor parte foi quando demos por nós debaixo de um céu azul e por cima das nuvens pelas quais passamos. Continuamos a escalar e já perto da cratera tinhamos à nossa espera um pôr-do-sol brutal que será difícil de esquecer.

Com o sol a desaparecer, o frio começava a tomar conta da montanha. Ainda que com muito pouca luz natural, montamos as nossas tendas, jantamos e tentamos estar sempre ocupados para combater as baixas temperaturas. Principalmente nesta altura que faz muito frio, convém estarmos preparados com gorros, corta-ventos, calças impermeáveis e sacos-cama térmicos para passarmos uma boa noite.

Na cratera até estávamos bem protegidos só que a 2300 metros de altitude a sensação térmica é sempre mais baixa. De qualquer forma, ainda nos despedimos deste dia sob um céu estrelado brutal que aproveitamos para tirar algumas fotografias.

Pico, o ponto mais alto de Portugal_Num Postal
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Subida ao Piquinho

No dia seguinte, acordamos muito cedo para vermos o nascer-do-sol. Eram 6h40 quando começamos a subida ao Piquinho para vermos o sol a aparecer desde o ponto mais alto de Portugal. É um momento sublime! Pessoalmente, gosto mais de ver o nascer-do-sol porque é algo que não estamos tão habituados a presenciar. Depois torna-se ainda mais mágico se apanharmos um manto de nuvens a invadir o céu como aconteceu aqui. À medida que o sol se ia mostrando, no lado oposto ia sendo cada vez mais visível a sombra do Piquinho marcada nas nuvens. Foi mesmo épico!

Pico, o ponto mais alto de Portugal_Num Postal
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Descida do Pico

Infelizmente o nascer-do-sol passa rápido e além disso não convém estarmos muito tempo no topo do Piquinho de modo a preservar aquele local. Assim sendo, começamos a preparar a nossa descida.

Há quem diga que a descida é mais difícil que a subida mas para ser sincero, não senti isso. É claro que há cuidados a ter porque o terreno é muito inclinado, os pés podem escorregar com mais facilidade por causa das pedras soltas e podemos estar doridos com a subida do dia anterior. Na verdade, não sei se foi por estar treinado com os trilhos da Rota Vicentina ou dos Picos da Europa mas não me custou tanto.

Nesta descida, os astros estavam completamente alinhados connosco e apanhamos um tempo incrível. Sem qualquer nuvem no céu, conseguíamos ver a ilha do Faial e tudo o que se passava ali à volta. Depois de uma subida com o tempo coberto, é caso para dizer que tivemos direito ao pacote completo!.

Quando chegamos à Casa da Montanha, tivemos direito a um certificado em como subimos até aos 2351 metros de altitude.

Pico, o ponto mais alto de Portugal_Num Postal
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Lajido da Criação Velha

A montanha do Pico é o denominador comum desta ilha mas nem só deste vulcão inactivo vive o Homem… Nesta que é igualmente uma terra de vinhos, é inevitável uma visita ao Lajido da Criação Velha. Ao andarmos para sul da Madalena, podemos ir sempre junto ao mar até chegarmos a um conjunto de vinhas vigiadas por um moinho. Esta paisagem dominada pelas vinhas com o Pico como plano de fundo, é composta por extensos campos lávicos que estão integrados na paisagem da cultura da vinha, Património Mundial da UNESCO desde 2004.

Tudo combina perfeitamente nesta paisagem que ganha um maior destaque com o Moinho do Frade. Os moinhos de vento e água fazem parte das tradições mais antigas da ilha e aqui podemos encontrar este ponto vermelho que contrasta perfeitamente com o verde das vinhas.

Pico, o ponto mais alto de Portugal_Num Postal
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Lajido de Santa Luzia

A Norte da Madalena temos outro lajido bem conhecido, o de Santa Luzia. Aqui encontramos um dos lugares que melhor acolhe as tradições da terra. Só que em sentido figurado porque há mais rocha vulcânica que outra coisa… Além das paisagens incríveis dos currais, as casas revestidas com rocha vulcânica e as antigas adegas junto à costa, podemos encontrar aqui um Centro de Interpretação da Paisagem da Cultura da Vinha da Ilha do Pico e a Casa dos Vulcões. Foi uma manhã muito bem passada e cheia de cultura geral sobre a ilha.

Pico, o ponto mais alto de Portugal_Num Postal
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Centro de Interpretação da Paisagem da Cultura da Vinha da Ilha do Pico

A primeira visita foi a um antigo armazém transformado neste Centro de Interpretação. É o ponto de partida perfeito para saber mais sobre esta cultura e todo o património que faz parte da ilha do Pico. Fomos muito bem acompanhados por uma guia que nos falou da história da ilha, da relação (não muito boa) com o Faial e da actividade vinícola. Só terminamos esta parte da visita com uma prova de vinhos licorosos da ilha do Pico.

Ficamos também a perceber que esta era a “terra dos homens grandes” visto que as vindimas eram um trabalho que puxava pelo físico dos trabalhadores. Por outro lado, há quem diga que a ilha do Pico tem propriedades extraordinárias e que isso se reflecte na anatomia do homem… Se é verdade ou não, depois de termos terminado a visita com a ida a um alambique tradicional, estava lá um homem gigante que vinha comprovar o que nos tinham contado.

Pico, o ponto mais alto de Portugal_Num Postal
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Casa dos Vulcões

Outra grande surpresa foi a Casa dos Vulcões. Aqui podemos aprender mais sobre a formação geológica dos Açores, através de “uma viagem ao centro da terra” e de uma exposição muito bem montada que mostra os componentes de cada ilha do arquipélago. Por exemplo, a diferença entre a ilha mais nova dos Açores (o Pico que tem 270 000 anos) é de mais de cinco milhões de anos para a mais antiga (vão ter de ir à exposição para saberem xD).

Já que há uma grande actividade sísmica nestas ilhas, foi também abordado este tema. A Casa dos Vulcões até tem um simulador de terramotos que dá para sentir o impacto causado pelos sismos de 1980 na Terceira e 1998 no Faial.

Cooperativa Vinícola da Ilha do Pico

Uma outra forma de provar vinhos da região é numa visita a esta cooperativa. Foi aqui que fomos recebidos nesta ilha com a primeira prova de vinhos licorosos do Pico. Não podíamos ter pedido melhor comitê de boas vindas!

Pico, o ponto mais alto de Portugal_Num Postal
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Afinal, quantos dias ficar no Pico?

Ora bem, no total tivemos 4 dias (apenas 2 dias completos) e 3 noites no Pico, sendo que o primeiro dia tenha sido para a chegada à ilha e o último dia para descer o Pico e apanhar barco até ao Faial. Tendo em conta o que fizemos, podia ter acrescentado mais um ou dois dias ao nosso roteiro, já que num dos dias esteve tão mau tempo que não foi nada produtivo…

Como o tempo é sempre muito instável, temos de ser flexíveis e para ter uma maior margem de manobra é preferível guardar mais alguns dias para absorvermos tudo desta região. Existem ainda muitas lagoas, grutas e trilhos para explorar no interior da ilha e nesse sentido o tempo não abonou a nossa favor. A Gruta das Torres, o maior tubo lávico de Portugal, a Lagoa do Capitão, o mirante do Museu do Vinho ou a observação de golfinhos e baleias nas Lajes do Pico, são só alguns dos exemplos que ficaram por ver.

Foram muitas voltas que demos ao sobor do vento mas no fim ficou mais um sonho realizado! Mesmo num ano tão atípico, sinto-me um sortudo por ainda poder realizar viagens como esta e ao mesmo tempo perceber que o nosso país continua a ser uma caixinha de surpresas.

Pico, o ponto mais alto de Portugal_Num Postal

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Autor do projecto Num Postal, arquitecto de profissão, fotógrafo nas horas vagas e apaixonado por viagens. Criei o blog para que não me escape nada das minhas aventuras pelo mundo, para partilhar com os outros e para eu reviver cada uma destas experiências! Depois de viver uma temporada no Brasil, percebi que há todo um universo lá fora para descobrir e desde então nunca mais parei de ir à procura de lugares desconhecidos.

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