SALVADOR,
O ENCANTO DA BAHIA
Uma varanda para o mar e o pôr-do-sol, uma igreja para cada dia do ano e o centro da cultura afro-brasileira
PUBLICADO A 8 DE FEVEREIRO DE 2020 | VIAGEM DE 27 A 29 DE AGOSTO DE 2017
Já tinham passado seis meses desde que cheguei ao Brasil e era altura de começar a despedir-me dos meus amigos e voltar para Portugal… Felizmente, isso não aconteceu! O meu visto era válido por mais um mês e assim decidi partir sozinho numa das maiores aventuras da minha vida! Uma viagem por outros países da América Latina era a cereja no topo do bolo mas era algo que não queria fazer sozinho… Assim sendo, decidi partir à descoberta do Nordeste brasileiro de mochila às costas, tendo começado a minha jornada de quase um mês em Salvador.
Uma aventura pelo nordeste brasileiro
Na tentativa de estar em maior contacto com a cultura local, a primeira aposta no Couchsurfing, em Brasília, correu tão bem que arrisquei novamente em cada cidade por onde passei e não me arrependi! Era a melhor forma de conhecer as pessoas locais e, desse modo, também foi da maneira que nunca estive sozinho. Visto que o Brasil não é dos lugares mais seguros do mundo, em certos lugares foi mesmo fundamental ter alguém que me dissesse para onde ir ou que fazer em certo sítio.
A capital da Bahia foi a primeira porta para um mundo muito diferente do que estava habituado em São Paulo. O Norte do país não é tão desenvolvido e Salvador apesar de ser a terceira maior cidade do Brasil, com quase três milhões de habitantes, tem áreas ricas mas a maior parte da região é muito precária. Enquanto ia na rua nem sempre sabia se estava a entrar num bairro pobre ou numa favela. Esta cidade foi a primeira sede colonial portuguesa no Brasil e a primeira capital do país. É um lugar reconhecida pela sua gastronomia, pela música, por um dos melhores Carnavais do Brasil e possui uma influência africana em muitos aspectos culturais da cidade, sendo mesmo a que tem mais habitantes negros fora de África.
A minha estadia na cidade era apenas de três dias, que foi o tempo máximo que passei por cada um dos lugares onde passei. Apanhei um avião de manhã cedo desde São Paulo até ao aeroporto de Salvador numa viagem que demorou cerca de 2h30m.
Dia 1, Igrejas em todo o lado:
O aeroporto ainda é longe do centro da cidade e por isso ainda tive de apanhar um autocarro durante uma hora até ao bairro da Liberdade onde iria ficar alojado. O percurso era meio esquisito, passei por lugares um pouco estranhos e por vezes temi pela vida. Felizmente tinha o meu anfitrião Josef à espera na última paragem para me levar até à sua casa com quem dividia com os pais e os seus dois irmãos.
Esta foi uma espécie de estratégia que tentei adoptar sempre que possível: tentar ficar com famílias. Aqui fui muito bem tratado e pude presenciar um dos melhores exemplos de humanidade! A família do Josef não tinha muitas posses, são bastante humildes ao passo que o Josef dividia o quarto com os seus dois irmãos. Mesmo assim conseguiram arranjar mais um espaço para mim e trataram-me como se fosse um deles. Os brasileiros gostam muito de receber e ficam encantados quando partilham experiências com pessoas diferentes. São um povo muito gentil capazes de dar tudo sem pedir nada em troca e aqui ficava provado nesta família. Quando cheguei à sua casa, ficaram muito felizes por me verem como se tivessem à espera do Messias, ainda me deram o almoço e pouco depois saímos à descoberta da cidade.
Igreja de Santo António Além do Carmo
Para começar o nosso roteiro, o Josef ia levar-me a ver o centro histórico. Estavamos no bairro da Liberdade que fica a cerca de 2km de distância do centro mas se formos andando tranquilamente nem notamos a distância. Iam aparecendo muitas casinhas da época colonial nas ruelas da cidade, muito estreitas e edifícios que não ultrapassam os dois pisos. Era uma forma das igrejas se sobressaírem como a Igreja de Santo António Além do Carmo que possui uma vista privilegiada para as docas. Por outro lado, na falta de cuidados dos muros da via pública existem motivos para sorrir em lugares com algumas obras de arte que vão encantando quem está de passagem.
Igreja e Convento do Carmo
Pelo caminho deparamo-nos com uma das referências de Salvador: a Igreja e Convento do Carmo, um dos edifícios mais antigos no Brasil. Com o passar do tempo o espaço foi deixado ao abandono pelos frades, transformando-se por completo numa unidade hoteleira de luxo, a primeira a ser ocupada num edifício histórico.
Largo do Pelourinho
Estavamos a caminho do Largo do Pelourinho, num bairro com o mesmo nome que é o mais antigo da cidade, considerado Património Mundial pela UNESCO. Este é o principal cartão postal da cidade e aproveita-se bastante da grande onda de turismo naquele lugar com uma grande concentração de bares, restaurantes, lojas de produtos artesanais, entre outros… Aquele que antigamente era um lugar de suplício onde os condenados eram expostos, hoje é um local vivo com cor, muitas actividades e eventos culturais. Aqui também se localizam a Igreja Nossa Senhora do Rosário dos Pretos, a Fundação Casa Jorge Amado (que era o lar do escritor baiano) e a varanda destacada onde Michael Jackson posou no videoclip de They Don’t Care About Us. Os brasileiros não brincam em serviço e quem quiser tirar fotografias na fachada do edifício com uma imagem do cantor tem de pagar 5 reais.
Largo Terreiro de Jesus
Salvador é um lugar que se destaca por dois motivos. Em primeiro lugar, é inevitável ficarmos indiferentes à boa energia transmitida pelas cores da cidade. Por outro lado é um lugar com uma quantidade enorme de igrejas, havendo mais do que uma para cada dia do ano (está contabilizado pela Globo que existem cerca de 372 igrejas).
Apercebi-me disso quando chegamos ao Largo Terreiro de Jesus, onde se localiza a Catedral Basílica de Salvador, a “igreja-mãe” da cidade. Do lado oposto está a Igreja de São Domingos de Gusmão e a Igreja de São Pedro dos Clérigos. De qualquer saída daquela praça voltamos a ver mais lugares de culto religioso como a Igreja da Ordem Terceira Secular de São Francisco ou a Igreja e Convento de São Francisco. Para piorar o cenário, os habitantes exploram ao máximo o turismo e por isso é rara a igreja que não cobre entre 3 a 5 reais para visitar o interior.
Monumento da Cruz Caída
Estávamos prestes a entrar na Praça da Sé, onde está um miradouro para apreciar a paisagem com uma estátua com 12 metros de altura que representa o Monumento da Cruz Caída que homenageia o desaparecimento da antiga Igreja da Sé. Para quem vive na cidade alta de Salvador tem este privilégio de obter panorâmicas da docas que não temos da parte baixa da cidade.
Palácio Rio Branco e Elevador Lacerda
Dali seguimos até à Praça Tomé de Souza onde estão dois dos pontos principais da cidade: o Palácio Rio Branco, a antiga sede do governo da Bahia que hoje tem uma das melhores varandas para a paisagem de Salvador, e o Elevador Lacerda, o primeiro elevador urbano do mundo que faz a ligação entre a entre as duas cotas da cidade mediante um custo de 15 centavos por pessoa (qualquer coisa como 4 cêntimos ).
Solar do Unhão
O nosso caminho continuou para sul e sempre a pé. Fomos a acompanhar os limites da costa até chegarmos ao Solar do Unhão. Mais conhecido que a Capela de Nossa Senhora da Conceição, o cais, o aqueduto, o chafariz e o alambique com tanques que compõe o Museu de Arte Moderna da Bahia, este é um lugar que se evidencia por uma das paisagens mais conhecidas de Salvador. É um lugar sereno e convidativo para assitir ao pôr-do-sol ou para praticar yoga a ouvir o som do mar.
Depois fui conhecer uns dos amigos do yoga do Josef e fomos jantar perto do bairro da Barra, um dos mais desenvolvidos da cidade onde estão a maior parte dos espaços hoteleiros. Mais tarde, voltamos ao calçadão para provar o acarajé, um bolo feito de massa de feijão típico do Nordeste e por momentos apanhamos um ensaio para o desfile de Carnaval de 2018 (e ainda estávamos em Agosto).
Dia 2, O melhor pôr-do-sol do Brasil:
Mercado Modelo
Acordamos cedo com um dia radiante (com o calor é impossível dormir muito mais) e o primeiro ponto de paragem foi num mercado junto ao mar como muitos que existem ali naquela zona.
Continuamos seguindo sempre para Sul debaixo de um tempo muito quente que só nos fez parar no Mercado Modelo. Junto ao Elevador Lacerda, perto da costa, este é um edifício amarelo com algumas das lojas artesanais mais antigas da cidade onde os turistas compram as suas lembranças.
Igreja de Santo António da Barra
Depois do Josef ter ido para a faculdade fiquei por minha conta. Dessa forma, continuei a descer junto ao mar até ao bairro da Barra. De um dia para o outro as temperaturas subiram bastante e então só queria estar descansado dentro da água do mar
De qualquer forma, ainda tinha de andar muito para que me aparecesse a primeira praia e pelo caminho foram aparecendo mais igrejas como a Igreja de Santo António da Barra, que estava fechada.
Farol da Barra
As melhores praias da cidade estão nas áreas mais periféricas onde os edifícios são trocados por palmeiras e áreas verdes. Ainda assim é possível ir dar uns mergulhos no mar sem nos afastarmos da capital bahiana. Uma das melhores praias é a do Porto da Barra mas eu fiquei ao lado, na Praia do Farol da Barra, que estava mais livre. Esta praia situa-se entre o Farol de Santa Maria e o Farol da Barra, este último como um dos espaços mais mediáticos da cidade, onde fiquei o resto da tarde até esperar pelo pôr-do-sol, um espectáculo para a cidade e que eu gosto particularmente de assistir. O sol põe-se por cima da Ilha de Itaparica e dos melhores sunsets que vi neste país.
Logo a seguir ao pôr-do-sol voltamos para casa e eu decidi oferecer o jantar para a família do Josef. Compramos umas pizas que custaram 40 reais (aproximadamente 15€) e quando me viram a fazer aquilo começaram a pensar que eu estava maluco. Enfim, são outras realidades… Ficamos por casa o resto da noite a desfrutar do jantar enquanto o pai do Josef se ia deslumbrando com muitas histórias da família.
Dia 3, Uma recta até ao Bonfim:
Igreja da Nossa Senhora do Bonfim
O último dia em Salvador também foi muito relaxante mas ainda havia algumas coisas para ver que não podia deixar para trás. Posto isto, começamos na Igreja da Nossa Senhora do Bonfim, a tal que é conhecida pelas suas fitas de várias cores de pôr no pulso. Localizada na Sagrada Colina, um dos pontos mais altos da cidade a cinco quilómetros do centro, é um dos maiores símbolos católicos de Salvador. Os salvadorenses aproveitam-se da situação actual da igreja e apoderam-se da sua entrada com várias bancas com artigos alusivas ao Bonfim ou à própria cidade.
Forte de Nossa Senhora de Monte Serrat
Ali perto encontramos junto ao mar o Forte de Nossa Senhora de Monte Serrat. Esta é uma construção militar da época colonial que devido às várias requalificações que sofreu é um dos lugares mais visitáveis da cidade. Dali é possível ver toda a baía poente de Salvador, da Ilha de Itaparica e da zona Norte da cidade.
Igreja Nossa Senhora do Rosário dos Pretos
De seguida, voltamos para casa (desta vez de uber porque o sol estava insuportável) para pegar nas minhas coisas e tomarmos um almoço rápido. O Josef tinha alguns compromissos e por isso tivemos logo de nos despedir ali. Eu continuei o roteiro, visitando novamente o centro histórico, onde cedi e paguei 5 reais para entrar na Igreja Nossa Senhora do Rosário dos Pretos. Isto tinha de acontecer mais cedo ou mais tarde e para acontecer tinha de ser numa das igrejas mais importantes. Este espaço tem muitas referências a Portugal e aproveitei durante visita para me juntar a um grupo e aprender um pouco mais do lugar.
Voltei à Praça Tomé de Souza para aproveitar o bom tempo e apreciar a paisagem com um tempo melhor que do primeiro dia. Desta vez não desci o Elevador Lacerda e por isso continuei pela Rua do Chile, uma das ruas mais importantes na história da cidade
Palacete das Artes
Os últimos quilómetros pela cidade levaram-me ao Palacete das Artes, um museu que pretende homenagear o escultor francês Auguste Rodin. Para além das várias exposições ao abrigo do museu, é possível também passar uma boa tarde no jardim ou na esplanada do bar.
Por fim, segui para a estação de metro mais próxima que me levasse até ao terminal de autocarros da cidade. O metro é dos mais recentes do país, tendo sido construído para o Mundial de Futebol de 2014, embora não chegue sequer perto do aeroporto (algo que estava a ser pensado em 2017). Metade das linhas são a céu aberto e nessa viagem é que se vê a verdadeira realidade desta cidade que é também reflexo de um país que eu ainda não tinha conhecido. São milhares de casas nos morros com condições muito básicas que ficarão para sempre na minha cabeça. Quando cheguei ao terminal rodoviário comprei a minha passagem para Maceió, uma viagem que ia fazer durante a noite ao longo de 10h30m (nada que eu já não tivesse habituado).
Considerações finais
Quanto a Salvador, foi o destino perfeito para começar uma viagem a solo. Confesso que no início desta aventura estava um pouco receoso porque nunca tinha feito uma viagem sozinho e o Brasil (principalmente o Norte) não é um país muito seguro, ainda menos quando se está só. Mesmo assim, o risco compensou e o Josef e a sua família contribuíram para que a minha vontade de voltar fosse ainda maior.
Os três dias parecem ser um período aceitável para se estar na cidade mas há tanto para descobrir à volta de Salvador que facilmente se consegue passar uma semana e ver sempre coisas novas. Existem muitas praias como a Praia de Itapuã ou a Praia do Flamengo e para quem quiser estar mais isolado ainda pode ir ao Morro de São Paulo que é uma das estâncias balneares favoritas na Ilha de Tinharé, a mais de 200 quilómetros de Salvador.
Fora uma igreja ou outra que me possa ter escapado, estes dias foram muito proveitosos para viver a cidade como se já fizesse parte dela. Só tenho de agradecer mais uma vez ao Josef e à sua família pela forma tão hospitaleira como me acolheram e por me ajudarem a ter dado mais valor a este destino.
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Autor do projecto Num Postal, arquitecto de profissão, fotógrafo nas horas vagas e apaixonado por viagens. Criei o blog para que não me escape nada das minhas aventuras pelo mundo, para partilhar com os outros e para eu reviver cada uma destas experiências! Depois de viver uma temporada no Brasil, percebi que há todo um universo lá fora para descobrir e desde então nunca mais parei de ir à procura de lugares desconhecidos.
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