VENEZA,
UM LABIRINTO SOBRE ÁGUA
Na senda do sobe e desce, pontes que te vão fazer parar a cada segundo e o dia em que fui assaltado por uma gaivota
PUBLICADO A 9 DE FEVEREIRO DE 2022 | VIAGEM DE 2 A 4 DE DEZEMBRO DE 2021
Veneza ia ser (e foi) um dos pontos altos da minha viagem pelo Norte de Itália! É um dos lugares mais autênticos do mundo em que não há mapas ou GPS que nos valham… Mas até aqui é que está a piada de percorrer as ruas desta cidade porque mesmo que nos percamos, vamos sempre dar aquele ponto que queríamos encontrar.
É uma cidade conhecida pelos seus canais, ruas labirínticas, pontes e igrejas que aliado ao facto de estar implantada sobre a água a tornam ainda mais especial. É um lugar tão único que até se tornou base de comparação com outras cidades como, por exemplo, Aveiro que é conhecida como a “Veneza Portuguesa” pela sua ria e os passeios de moliceiro que facilmente se assemelham às gôndolas que percorrem a cidade italiana.
Por ser uma referência tão importante em Itália, acaba por se tornar um destino muito turístico e como tal não é propriamente dos mais baratos… Por isso, fiquei alojado perto da estação de Venezia Mestre, uma das últimas paragens de comboio antes de chegar à cidade. Em 15 minutos e 1,35€ depois, estava em Veneza e foi assim o meu ritual durante os 3 dias neste labirinto sobre água.
Dia 1 | Perdido no labirinto:
Embora tivesse uma pequena ideia do que queria fazer neste primeiro dia, decidi perder-me pelas ruelas de Veneza. Foi dessa forma que conheci os primeiras canais, sempre numa senda de sobe e desce das pontes… Aos primeiros olhares era inevitável não tirar uma fotografia em cada uma destas pontes. Cada canal era mais mágico que o outro e nem o tempo pouco simpático lhe tirava a mística que ali se vive.
Continuei a andar de uma forma tão espontânea que foram muitas as vezes que acabei por ir dar a becos sem saída. Nesta altura estava no bairro de San Polo onde encontrei a Igreja de São Pantaleão e na Basílica de Santa Maria Gloriosa dei Frari onde tentei entrar. Sim, tentei e consegui pelo menos fazê-lo na primeira, na segunda já não arrisquei porque se pagava. Mais tarde vim a verificar que era algo muito comum nos espaços religiosos de Veneza…
Praça de São Marcos
A certa altura chego ao bairro de Dorsoduro onde há uma enorme vertente cultural que se reflecte nas ruas. Continuei a caminhar e em seguida deparei-me com uma estrutura em madeira conhecida como a Ponte dell’Accademia. Esta ponte em arco é das mais altas de Veneza, onde temos uma das melhores perspectivas do Grande Canal. É a partir deste ponto que entramos no bairro de São Marcos.
Uns minutos volvidos e rapidamente estamos na Praça de São Marcos, uma das maiores referências de Veneza. Assim que entrei na praça, pensei de imediato que não podia ter pedido melhor altura para visitar esta cidade… Isto porque por meros segundos, estive sozinho no meio da praça e não há muita gente que possa dizer que passou por essa experiência. Antes da pandemia era algo impensável e não precisei de acordar cedo, aliás, eram perto das 11h quando este fenómeno aconteceu…
Dotada de galerias incríveis que datam do século IX, salta logo à vista nesta praça a Torre do Relógio ou Campanário que dos seus quase 100m de altura consegue oferecer uma vista de 360º da cidade. No entanto, o que me chamou mais atenção foi a Basílica de São Marcos que numa mistura de estilos do Oriente e Ocidente, é uma das mais categóricas edificações bizantinas da Europa.
Ah, e não nos podemos esquecer das gaivotas… Estes “locais” são uma séria ameaça a quem passa ali com comida e eu sei bem disso depois de ter sido assaltado por uma gaivota enquanto esta passou por mim e me roubou um croissant que tinha na mão… Só mais tarde é que vi os avisos nos caixotes do lixo de que era proibido comer naquela praça e percebi (da pior maneira…) que as esplanadas totalmente vazias não se deviam ao frio ou à pandemia…
Riva degli Schiavoni
Ao virar a esquina da Praça de São Marcos, temos o mar mesmo à espreita. Aqui começa a Riva degli Schiavoni, um percurso em direcção ao bairro de Santa Elena, conhecida pela ausência de turistas e pela casa da Bienal de Veneza, que se torna num dos passeios mais tranquilos que se pode fazer. Tem início no Palácio Ducal, uma antiga residência oficial dos dirigentes máximo de Veneza, ligada a uma antiga prisão pela Ponte dos Suspiros, um nome que resulta dos últimos suspiros de liberdade dos presos quando passavam para a prisão.
Pelo caminho encontramos a estátua do Monumento a Victor Emanuel II e a Igreja de Santa Maria della Visitazione enquanto temos da outra margem a sempre presente Basílica de São Jorge Maior. À medida que ia continuando até Santa Elena, reparei que também em Veneza existem muitos campanários tortos como acontece na torre de Pisa… Foi assim que entrei por entre as ruas desta parte da cidade para ver mais de perto este tipo de acontecimentos.
A certa altura cheguei ao ilhéu de San Pietro di Castello que por acaso tinha um desses campanários tortos. Ao chegar aqui, deparei-me com uma Veneza muito diferente, com um silêncio ensurdecedor e nem uma alminha nas ruas… Durante algum tempo a única coisa viva que vi foi um pombo e um gato.
Basílica de Santa Maria della Salute
Já se passavam algumas horas desde que comecei a andar e por isso parei num parque junto ao rio. Mas não tardou muito tempo até que voltasse a dar sola aos sapatos e fiz o caminho de volta até Dorsoduro. Neste que é um dos bairros mais pacatos da cidade, aproveitei enquanto havia alguma luz natural para andar por ali até que me encontrei com a Basílica de Santa Maria della Salute. Esta igreja é também ela única pelo facto de estar suportada por mais de um milhão de estacas de madeira.
Foi já com a noite a cair que voltei à Praça de São Marcos para ver aquele lugar iluminado. Felizmente, estávamos na época do Natal porque nas várias ruas da cidade a iluminação é muito escassa… Nestes entretantos, é que me fui apercebendo que até então não tinha visto nenhum carro, o que é perfeitamente normal e por isso é que Veneza tem outro encanto.
Dia 2 | As outras ilhas de Veneza:
Veneza não se limita apenas a uma ilha. Tudo o que já sabemos é bonito e de fácil acesso mas são os lugares mais remotos que têm as melhores paisagens, costumes mais antigos e tradições com uma história muito rica. Eu reservei um dia inteiro que deu para descobrir três ilhas extraordinárias como Murano, Burano e Torcello. Aproveitei para comprar um passe diário de 20€ que dá para fazer as viagens que quiser em 24h. Deu para todas as voltas nestas ilhas e sem grandes pressas.
Murano
Na parte Norte de Veneza, saindo do cais F.te Nove “B”, temos como primeira paragem Murano numa viagem que demora 15 minutos. Esta pequena réplica veneziana é uma das maiores indústrias do vidro desde 1291. Composta igualmente por pequenas ilhas, passei uma manhã inteira a percorrer as margens dos canais e a atravessar as inúmeras pontes.
A regra para percorrer Murano é a mesma de Veneza: perdermo-nos no labirinto. Embora a dimensão não seja a mesma, há sempre muito para ver como é o caso do Museu do Vidro, localizado no Palazzo Giustinian, com peças exclusivas feitas pelos artesãos. Além disso, basta chegar à ilha que vamos encontrar sempre alguém a convidar-nos para explorar as fábricas do vidro (algo que me arrependo de não ter feito…).
A Basílica dei Santa Maria e Donato é outro dos lugares mais visitados da ilha. O exterior em tijolo contrasta com o branco do interior que faz lembrar as igrejas luteranas sem qualquer tipo de ornamento. Esta é uma das igrejas mais antigas de todo o arquipélago de Veneza.
Burano
Cerca de 45 minutos depois de uma viagem de barco com partida de Murano, temos Burano. Se Murano é uma mini-Veneza, então Burano é uma mini-Murano e possivelmente é dos lugares mais bonitos de todas as ilhas! As suas cores vibrantes dão mesmo a ideia que os edifícios são constantemente pintados de fresco.
É um lugar muito mais sossegado que as outras ilhas mas ao mesmo tempo é cheio de vida e é na Via Baldassare Galupi que se encontram os principais pontos comerciais. A ilha é conhecida pelas suas rendas e bordados locais só que não há nada como aventurarmo-nos pelas ruas estreitas onde pelo meio encontramos diversos pátios e a Casa de Bepi, a mais colorida de toda a vila.
Torcello
A última ilha é a mais distante de Veneza e a mais antiga. É igualmente das menos habitadas e a ideia com que fiquei é que vive fundamentalmente para o turismo. Ao sairmos do barco que vem de Burano, são menos de 10 minutos para chegar a Torcello e a partir do cais, andamos para dentro da ilha num percurso que nos leva até à Igreja de Santa Fosca e a Basílica de Santa Maria Assunta.
É um lugar com muito pouca civilização em que vale a pena perder tempo para parar e só existir um bocadinho… Foi exactamente isso que fiz e também aqui comecei a assistir ao pôr-do-sol.
O pôr-do-sol não havia de ficar por Torcello e então aproveitei que tinha um passe de barco para o dia todo para sair em Burano e ir até ao ponto mais a Poente da ilha para ver o que faltava. Foi a melhor coisa que fiz e apanhei um fim de dia brutal! De toda a minha viagem por Itália, este dia foi claramente o melhor!
Dia 3 | De Rialto a Giudeca:
Foi no dia da maré cheia que me despedi de Veneza. Não sei se há um termo certo para isto mas quando cheguei perto da Ponte de Rialto, os níveis de água estavam um pouco acima do costume e entravam pelas ruas adentro. Junto ao Grande Canal havia troços que não dava mesmo para passar…
Mercado de Rialto
É inevitável falarmos de Veneza sem pensarmos nos canais e numa cidade que está sobre água. Isto é o que na generalidade acontece mas uma das coisas que mais queria ao vir a esta cidade era tentar falar com os pescadores do Mercado de Rialto e perceber melhor como funcionar todo aquele processo. Infelizmente não tive muita sorte porque ninguém sabia falar inglês mas pelo menos deixaram-me fazer ali uma pequena reportagem que durou uma boa parte da manhã.
Este é o mercado onde os locais se abastecem e aqui encontramos um pouco de tudo. Peixes de todos os tamanhos e cores, lagostins, polvos e muito mais. É tudo fresco e é uma experiência que vai pôr à prova todos os teus sentidos.
Ponte de Rialto
Ali perto estava a famosa Ponte de Rialto, um verdadeiro monumento! Apesar de ser um dos cartões de postal da cidade, nunca me tinha percebido da sua grande dimensão. É uma das quatros pontes que atravessam o Grande Canal e do seu topo conseguimos ter uma vista privilegiada sobre o mesmo. A ponte possui dois lances de escadas nas laterais e um corredor central com pequenas lojas viradas para o interior. Nem eu sabia que isso existia…
À volta da ponte podemos ter outros pontos de contemplação como a Riva degli Vin, uma via junto ao rio na qual andamos sempre paralelos ao Grande Canal. Hoje em dia está cheio de cais e restaurantes e também pelo facto de naquele momento estar alagada, não lhe consegui aceder… Ainda assim, não faltam lugares para estar com a Igreja de San Giacomo di Rialto ou a Fondaco dei Tedeschi, um antigo armazém transformado num centro comercial e no qual se pode contemplar as vistas da cidade a partir de um rooftop.
Giudecca
A minha tarde foi passada num conjunto de ilhas a sul de Veneza. Giudecca de seu nome, é um lugar ao qual se acede apenas de barco. São cerca de 2 minutos desde Zattere. Fui mesmo pela desportiva para ver se me surpreendia e porque queria ver mais de perto a Igreja do Santíssimo Redentor, construída no séc. XVI para celebrar o fim da peste negra. Ainda tentei entrar mas o preço do bilhete não era propriamente simpático…
Nem toda a gente vem para este lado de Veneza e por isso torna-se um lugar muito sossegado onde só passa aqui quem tem morada permanente. Dizem que é um dos lugares mais acessíveis para ficar alojado mesmo que isso implique uma deslocação de barco. De qualquer forma, o que mais gostei desta margem foi de poder observar outra perspectiva de Veneza.
Ainda ia passar mais uma noite em Veneza mas até aqui dava por concluída a minha visita. E sabem que mais? Acho que não podia ter pedido uma melhora passagem nesta cidade! Claro que podia ter passado menos frio e haver mais sol… Porém, fui na altura ideal visto que ainda há alguns receios e restrições com a Covid-19 que afastam os fluxos de outros tempos.
Houve certas coisas pelas quais não passei como andar de gôndola nos canais (pagar 80€ por 30 minutos era demasiado para uma só pessoa…) ou de ficar instalado no meio de Veneza para aproveitar melhor as noites, mas ter estado alguns segundos sozinho na Praça de São Marcos (sem precisar de acordar às 6h da manhã) ou ter conhecido a ilha de Burano, foram claramente das melhores experiências que retirei desta viagem!
Acho que pela quantidade de fotos que publiquei, é claro que nada me ficou indiferente e podia continuar a encaixar mais recantos desta ilha para contar uma história mais completa… A verdade é que, seja em que época do ano for, Veneza é tão deslumbrante que só espero ter feito jus ao real valor desta cidade!
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Autor do projecto Num Postal, arquitecto de profissão, fotógrafo nas horas vagas e apaixonado por viagens. Criei o blog para que não me escape nada das minhas aventuras pelo mundo, para partilhar com os outros e para eu reviver cada uma destas experiências! Depois de viver uma temporada no Brasil, percebi que há todo um universo lá fora para descobrir e desde então nunca mais parei de ir à procura de lugares desconhecidos.
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